Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Manifesto Contra o Ônibus!!


Relato enviado pela voluntária Bárbara (Palhaça Suzete)



Estávamos Dália, Matilda e eu, no corredor e começamos a brincar com uma paciente dizendo que estava vindo um namorado visitá-la! (Ela nos disse que era amigo, mas já era a segunda vez que ele estava indo, e ele ainda morava em Francisco Morato, mas não a avenida, a cidade). Conversa vai, conversa vem... 
 
Começamos a falar de BUZÂO! Sim, aquele Buzão que temos que acordar cedo para pegar as 06h00 da manhã. Já começa no ponto de ônibus se é que você consegue entrar no ônibus, pois tem aqueles motoristas que passam direto no ponto e você fica lá com cara de tacho esperando o próximo! Faça ou chuva ou faça sol, você está lá no ponto xingando os motoristas que passaram direto e reclamando com as pessoas que você nem sabe o nome, mas já lhe são amigáveis, já que você os vê todos os dias pela manhã, sabe que ônibus pegam, as roupas que usam, os penteados, a rua em que moram e às vezes até para onde vão. Milagre, depois de 45 minutos esperando, um ônibus para! É motivo de festa. Mas nem tudo são flores, porque quando você consegue entrar, você se sente uma sardinha, toda espremidinha e acreditem se quiser, já tem cheirinho de cecê, misturado com todos pelo menos uns cinco perfumes diferentes por centímetro quadrado. Você entra com um perfume só e sai com cinco! Aí você tem que tentar passar a catraca, que é uma guerra. Mochila na cabeça, bilhete único na mão, pontinha do pé e barriga encolhida. Na boa, isso não é para qualquer um. Próximo passo, chegar perto da porta, mas para isso tem um corredor que você vai se encostando nos cabelos daquelas mulheres que enchem a crina de creme, aí na hora que você passa, vem tudo no teu braço, blusa... Fica aquela gosma... ECA!!
  
Eu, Dália, Matilda e outras pessoas que ali estavam, a maioria de altura mediana, ficamos na altura do sovaco e ainda temos dificuldade de alcançar o corrimão. Uma das enfermeiras disse que isso é ótimo, pois ela pode pegar no braço dos homens fortões. Os altos que ali estavam, disseram que conseguem ver de tudo, mas tem dificuldades de conseguir colocar as duas plantas dos pés inteiros no chão. São os famosos passos sem chão, são aqueles passos que quando você levanta o pé já não tem mais espaço de chão para colocá-lo, pois já tem um pé alheio no lugar. E ainda não acabou não... Você precisa descer do ônibus... Mas cadê o botão? Ah mas é claro, o botão sempre está em um lugar que não conseguimos alcançar... Se tentarmos chegar ao botão, as pessoas olham feio, se pedimos para apertarem para nós elas olham feio também. Isso é o que uma enfermeira chamou de “bom humor matinal”. O ônibus para e você desce. Ufa! Só que daqui à 8h00 trabalhadas, você ainda tem que voltar para casa. 
 
Fim de tarde, depois de um dia inteiro de trabalho, a única coisa que nós queremos é ir para casa! Descansar. Ou seja, você não quer ser incomodado. Você quer Paz e sossego. Só que sempre tem um infeliz no ônibus que não usa fone de ouvido e fica com aquelas músicas que geralmente você odeia, bem no seu ouvido. Às vezes da vontade de pegar o celular da pessoa e jogar pela janela. Se não é a música, são os famosos “nexteis”, em que os usuários não sabem usar a função telefone e o ônibus inteiro tem é obrigado a saber da vida deles!!
 
Enfim, nem tudo são flores. Pegar um ônibus é uma experiência para ver até onde vão as forças do brasileiro.
 
Como a conversa saiu do peguete da paciente para o Buzão, eu não tenho a mínima ideia.
 
 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Choro

 
Relato enviado pelo voluntário Tomás (Palhaço Estafúrcio)
 

Numa visita ao GRAACC, há alguns dias, pra mim a cena mais marcante foi a do homem que estava sentado no S1 a chorar.
  
Logo que cruzamos olhares não consegui decifrar o que se passava, se estava triste com alguma notícia, desesperado com o exame ou se tinha algum problema neurológico. Fato é que me senti compelido a jogar com ele. Decisão difícil e arriscada que no fim valeu muito a pena.
 
Inicialmente pedi permissão para sentar ao lado dele e sentir melhor qual era a possibilidade de jogo. Prontamente a Lorena e o Mixirico iniciaram um jogo de “sentar do lado”. Como ele só tinha dois lados (!), então logo o trio já teve um problema estabelecido.
 
Daí pra frente começou um tal de levantar, sentar e trocar de lugar que fez com que a Lorena sentasse no colo do Estafúrcio. Uma vez sentada outro jogo iniciou: a Lorena começou lentamente a escorregar e o Estafúrcio foi ficando desesperado que não conseguia segurá-la e começou a pedir ajuda para o rapaz triste.
 
Aos poucos a situação foi ficando meio patética e o moço começou a se divertir com aquilo e deu pequenas risadas. Foi um misto de tristeza e alegria.
 
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Tamanho dos Problemas

 
Relato enviado pelo voluntário Denis (Palhaço Durval)
 

Sabe, desde que ingressei na atividade de palhaço voluntário venho aprendendo muito... Desafios pessoais que são vencidos, aprender a dar valor às coisas certas, entender que a vida é muito mais do que enxergamos.
 
A experiência no hospital nos faz refletir e entender que muitas vezes desprendemos tanta energia em problemas que parecem gigantes para nossa pequena ótica, mas, quando nos deparamos com pessoas pequeninas, lutando para continuar respirando, percebemos que tais gigantes problemas não passam de grãos de areia.
 
Me lembro de alguns casos marcantes como foi a história do P. que estava na UTI do Darcy Vargas. 
Eu e minha parceira, ao chegarmos, nos deparamos com este garotinho de mais ou menos 3 anos, entubado, mas consciente da nossa presença. Após algumas bolinhas de sabão, no momento da despedida, P. desconectou um tubo.
 
Eu, desesperado, chamei a enfermeira e ela nos disse: “Fiquem tranquilos. Ele fez isso para chamar a atenção. Não quer que vocês vão embora.”. 
Ela ainda completou dizendo que a mãe não conseguia ir visitá-lo sempre, pois ele tinha mais três irmãos e não era possível pagar condução todos os dias.
 
São minutos como estes que transformam meus grandes e ínfimos problemas em nada.
 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Tanto Faz!

 
Relato enviado pelo voluntário Rodrigo (Palhaço Mixirico)
 


Na UTI, Estafúrcio e Mixirico entraram no quarto de um adolescente, quando Mixirico percebeu que o rapaz preferiria a presença da Lorena.
Então ele perguntou: “Você prefere que ela entre primeiro né?”
O rapaz respondeu: “Tanto faz?”
 
Noooooossa!!!! Foi o que bastou pra Lorena ficar arrasada!!!! Como assim “tanto faz”!!!
Mixirico, vendo o desespero da amiga, pediu para ela sair e voltar em grande estilo. Estafúrcio sugeriu uma apresentação.
Foi quando o garoto disse: “Tenho 17 anos!!!”.
Cada um entende como quer, Mixirico entendeu que ele queria algo adulto e pediu para que Lorena mostrasse uma apresentação sensual!
 
Mixirico anunciou Lorena como sendo a Melhor, a Espetacular, a Sensual LOOOOOreeeenaaaaaaaaaaaaaa!!!!
Eis que entra a linda Lorena... Estafúrcio não se conteve nas palmas, Mixirico assoviou, o acompanhante do garoto também se empolgou e o garoto continuou no videogame. Mas seria até ele ver a performance sensual de Lorena.
 
A cena seguiu: Lorena entrou toda sensual e literalmente se jogou na parede e começou a se roçar nela, para total decepção de Estafúrcio e Mixirico, que de imediato se retiraram do quarto dizendo que ela parecia uma lagartixa na parede, se perguntando se aquilo era uma dança sensual!!! 
O acompanhante não parava de rir!!! Já o garoto continuou no videogame, para ele: “Tanto faz!!!!”.
 
Nunca vi a Lorena tão decepcionada com sua performance, porque ela jurou que deu o melhor da sua sensualidade!!!
 
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Menininha Super Poderosa

 
Relato enviado pelo voluntário Marcos (Palhaço Tadeu)
 
 


Estávamos da janela tentando ler o livro, que uma menininha que estava lendo deitada em sua cama. Ela nos viu e logo se levantou, vindo até o vidro do quarto para ver o que estávamos fazendo do lado de fora.
  
Ao ver a garotinha olhar para nós, Ascarez tirou o chapéu e sorriu. Eu olhei para o Ascarez e coloquei o chapéu na frente do rosto dele para esconder sua feiura, mas algo deu errado.
O chapéu que eu estava segurando sobre o rosto do Ascarez ficou preso. Comecei a puxar mas não saia. Estava entalado!
  
Ascarez começou a ficar sem ar... Desesperado, eu comecei a puxar, mas o chapéu não saia! Eu colocava os pés, empurrava, puxava com os dentes e nada. 
Como fiquei cansado de tanto puxar o chapéu, às vezes eu tirava o chapéu da frente do rosto do Ascarez, somente para me abanar um pouco, e logo voltava a colocá-lo onde estava “entalado”.
  
E assim ficamos, até que eu pedi a ajuda da menininha.
Fiz sinal para ela colocar as mãozinhas no vidro, para que eu pegasse um pouco de sua energia. 
A menininha colocou a mão no vidro, eu coloquei a minha mão sobre a dela (apenas separados pelo o vidro) e pedi para ela fazer força. 
Ela logo encheu a bochecha de ar e fez cara de força. Eu contei até três com os dedos e puxei o chapéu com tudo, mas agora energizado pela a menininha. 
Pronto o chapéu saiu!! Eu olhei para a menininha com cara de surpreso e ao mesmo tempo feliz!!
 
A menininha olhou para a sua mão meio sem acreditar com um ar de felicidade incomum!!
Ascarez respirava ofegante e feliz, e eu explicava que tive ajuda da menininha e nós dois começamos a agradecer a ela sem parar.
  
A menininha ficou super feliz em ter ajudado e também ganhou os parabéns de seus pais, que assistiam tudo em silêncio...
Mas espere!! Todos estavam em silêncio nesse jogo! Mas, mesmo assim, todos diziam algo...
Obrigado, Obrigado, Obrigado e a menininha era a única que dizia De nada.
 
 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quem tem medo de quem?

 
Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)
 
 

Na recepção do GRAACC, encontramos a N. sentada no colo de sua mãe. Quando nos aproximamos, a mãe rapidamente escondeu a N. inteirinha com um cobertor. Através de uma leitura labial, descobrimos que ela tinha medo de palhaço.
 
Odorica, Ricota e eu ficamos perguntando em voz alta se havia uma criança por ali. De repente, a mãe retirou o cobertor e revelou a presença da N. Levamos o maior susto! Saímos correndo para longe da menina e nos escondemos, cada um em um canto da recepção.
 
A mãe voltou a cobrir a N.

Recuperamos o fôlego e nos aproximamos da montanha de cobertor. Voltamos a debater sobre a presença de uma criança ali: 
Ricota: “Tenho certeza que vi uma criança aqui.”.
Odorica: “Estava aqui, eu vi também.”.
O jogo se repetiu, mas com maior intensidade. A mãe retirou o cobertor inesperadamente e pronto: “Ai, Meu Deus! Uiiiii! Que susto!”. 
Palhaços assustados correndo para todos os lados em busca de um novo esconderijo.
 
Na terceira vez que o jogo se repetiu, qual não foi a nossa surpresa quando, após ser descoberta, a pequena N. deu um berro de “Buuuuuu”. 
Aí sim, nosso susto foi medonho. Fugimos para o elevador, felizes porque o medo da menina se transformou naquele grito empolgado.
 
Fim.
Ei, peraí!
Não terminou ainda.
 
Passeios de elevador. Ginástica na escada. Uma musiquinha aqui. Uma dancinha ali. Declaração tosca de amor... “Ei, palhaços, tem alguém se escondendo de vocês ali.” – avisou uma enfermeira na Quimioteca.
Quem era? Quem? Quem? A N., é claro!!
 
Continuamos o jogo do esconde-esconde. Inúmeros gritos de “Buuuuuu” foram disparados na nossa direção. Utilizamos um biombo para uma aproximação, tentando passar despercebidos pela N. 
A metralhadora de “Buuuuuuuu” não parava nunca mais de atirar. E, a cada susto nosso, aumentavam os risos da N.
 
Fomos embora assim, assustados, fugindo dos disparos. O mais gostoso foi ouvir uma pessoa perguntar: “Ela não tinha medo de palhaço?”.

 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Feliz Despedida

Relato enviado pelo voluntário Cristiano (Palhaço Lourival)
 
 
 



Normalmente as despedidas são recheadas de sentimentos e, em regra, carregadas de saudade, do não querer se despedir, da vontade de ficar mais um pouco ou até mesmo para sempre com aquele que se despede.
 
Não conhecia ainda o que viria a testemunhar naquela manhã no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus. Quincas e Lourival, como sempre, divertiam-se pelos corredores, sempre muito cheios de crianças, adultos e funcionários, todos sempre muito alegres com nossa presença, mas ouvimos um pedido especial, o J., uma criança que por meses estava internada e que havia rendido uma série de relatos e relatórios sobre sua interatividade com os palhaços e funcionários, queria se despedir.
 
Como assim? Quer se despedir?
Trata-se de uma criança de aproximadamente cinco anos, que sempre era visitada, desde sua internação na UTI até a observação, sempre alegre, disposta, brincando, por vezes não falava, não conseguia, estava com tubos, sondas e outras coisas penduradas, amarradas e talvez até parafusadas nele, mas nunca se recusava a sorrir.
 
J. era aquela criança que não exigia qualquer coisa do palhaço, ele conduzia a brincadeira, pescava com uma linha amarrada em qualquer coisa, era um exemplo inspirador de improviso.
 
Naquela manhã de Outubro, J. queria se despedir, estava de alta e era sua ultima manhã no hospital. J. naquela manhã falava, com dificuldade mas falava, brincava como sempre, ainda não conseguia ficar de pé, muitos meses deitado deixaram suas pernas enfraquecidas, mas isso não o impedia de querer tentar se levantar para brincar com os palhaços, seu olhar era só felicidade, desde sempre, e agora ele iria embora, pra sua casa, com saúde.
 
J. me ensinou que nem todo adeus é triste, ficamos muito contentes em dar adeus ao J.
 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O que você vê?

 
Relato enviado pelo voluntário Denis (Palhaço Durval)
 
 


As crianças nos ensinam muito, mas para isso, é preciso acessar o mundo delas.
 
Certa vez, no Emílio Ribas, uma garotinha de 5 anos, chamada V. levou a mim e meus dois colegas para um passeio na praia.
 
Na praia ela nos mostrou a areia, o mar, os peixes e até o sol quente. Agora, eu pergunto: - O que você enxergaria?
  
Se sua resposta for um pátio de concreto entre dois prédios em um dia nublado, convido-o (a) para fazer uma reflexão sobre como você esta vendo a sua vida e a das pessoas ao seu redor. Agora, se você consegue entrar na praia de V., talvez consiga entender o que eu quis dizer com este post.
 
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BZZZZZZZZZZZZZ


Relato enviado pela voluntária Daniela (Palhaça Janja)
 
Chegamos à porta do quarto, o paciente H. nos olhou, fez uma cara de “tanto faz” e voltou a assistir TV. A faxineira terminava de limpar o quarto e nós continuávamos plantados na porta pensando no que podíamos fazer ou se iríamos embora dali. 
 
Pior que o NÃO é a total INDIFERENÇA. Ah como é difícil aceitá-la!!! Por isso somos brasileiros e insistimos SEMPRE... Mais um pouco ali na porta e Romão entrou no quarto, parou em frente à cama do garoto, apoiou os dedos sobre a mesa de comida (que estava vazia) e começou a dedilhar um possível piano.
Mais do que rápido Batatinha deu um som grave ao instrumento e Romão tocava com maestria aquelas notas.
 
H. olhava atento à TV e discretamente, de vez em quando, procurava-nos com o olhar para ver o que estávamos fazendo.
Importante dizer que ele estava com uma máscara gigante no rosto e só conseguíamos ver seus olhinhos passeando e procurando por nós de vez em quando.
 
Romão deu uma leve pausa e começou a tocar novas notas. Desta vez, mais agudas o que fez com que Janja assumisse o comando de voz das notas.
Romão apertava a tecla e Janja respondia agudamente com os sons de cada uma. 
H. que não deu a mínima para nós no início começou a esboçar os primeiros sorrisos. Foi quando Romão apertou outra tecla que fazia um som parecido com o pernilongo. Ele tirava o dedo da tecla e o som parava.
 
Como Romão é esperto, ele ficou apertando a tecla por mais tempo, para tentar achar o pernilongo, mas não encontrava.
Estes sons longos deixavam Janja completamente sem ar, mas Romão não percebia que ela estava passando mal!
Janja pedia a ajuda de H. que gargalhava e não estava nem um pouco a fim de ajudá-la. Fingia que não era com ele.
Janja, cada vez mais sem ar, desmaiou!! 
 
Romão automaticamente parou de ser incomodado pelo barulho do pernilongo (que coisa não?!). Ao perceber a situação inconsciente de sua parceira Romão foi socorrê-la, mesmo sem saber o motivo que provocou o desmaio! E assim saímos de lá à procura de socorro para Janja e ainda ouvindo as gostosas gargalhadas de H., que não estava NEM AÍ pra gente!!