Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

A Especialista


Relato enviado pelo voluntário Pedro (Palhaço Jaime)




Jaime e Xurumi caminhavam pelo corredor e, de repente, uma menina passou por nós realizando um passo muito especial... Era uma espécie de andar saltitante que logo atraiu nossa atenção e começamos a tentar imitar.
  
A menina andava e saltava, Jaime andava e saltava e Xurumi tentava seguir os mesmos movimentos. Tentávamos aprender os detalhes, mas a menina não parava para explicar e continuava andando e saltitando...
  
Após algum tempo, aquela especialista em passos especiais olhou para o Xurumi e disse: “Não é assim, poxa!!! Tem que mexer o cabelo!!!”
  
Xurumi, ouvindo aquilo, tirou sua boina e mostrou para a criança seus poucos fios que ainda resistiam firmemente em sua cabeça. 
  
A menina olhou... refletiu... pensou... e disse: “É! Você não pode fazer!!!”. Virou e saiu saltitando...
  

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Lágrimas Perfumadas


Relato enviado pela voluntária Viviane (Palhaça Dália)





Entrei com Dalila e Janja em mais um dentre os muitos quartos do Instituto Emílio Ribas; quem será que encontraríamos ali? A primeira coisa que nos chamou atenção, logo na porta, foi o cheiro daquele local: um frescor delicioso, daqueles que sentimos quando alguém acabou de sair do banho. Entramos mais um pouquinho e avistamos um senhor sentando, sozinho, em sua cama. Ele estava com os cabelos recém lavados, bem penteados e, claro, muito perfumados!
  
Perguntamos seu nome e ele, sem hesitar, respondeu: A.! 
Janja tratou logo de elogiá-lo por estar tão bonito e perguntou, humildemente, se ele tinha se arrumado tanto só para nos ver. Tão rápida quanto a pergunta, foi a enxurrada de lágrimas nos olhos de A. Lágrimas intensas, cheiras de uma emoção instantânea, profunda. Perdi um pouco o chão naquele momento e percebi que minhas parceiras também. Como não sermos tocadas por aquele choro tão sincero?
  
Entretanto, fizemos o possível para não deixar nossa comoção transparecer ao A. e continuamos a nossa conversa dizendo que também tínhamos nos arrumado para vê-lo, mostrando nossas roupas, dançando e nos exibindo. A., já mais calmo, nos examinava, sorria e aprovava a apresentação. 
  
Nos despedimos mandando beijos e abraços, e o A. novamente levou as mãos aos olhos, contendo as lágrimas que insistiam em cair.
  
Não sabemos ao certo o que aconteceu naquele quarto, o que nossa presença causou naquele senhor nem o motivo daquela demonstração de tão imensa gratidão por estarmos ali. Só sei que saí pensativa...
Abençoado seja o nariz vermelho que, com sua graça e simplicidade, toca a alma do ser.
  

quarta-feira, 16 de abril de 2014

O Sorriso dos Olhos


Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)




Lá no Menino Jesus conhecemos um menino chamado C. Ele nunca ri. Nunca. Uma criança que nunca ri é um desafio para palhaços. E esse desafio parecia impossível pra mim, afinal, na minha última visita ao C., eu não tinha conseguido arrancar dele sequer um olhar, quanto mais uma risada, um sorriso.
  
Palhaços sentem medo? 
Palhaços se frustram? 
Palhaços desistem?
  
Eu senti medo. Já tinha me frustrado uma vez, mas não desisti. 
Certo dia, Romão e eu paramos junto à porta do quarto do C. e ficamos escondidos atrás da sua cama. Ficamos trocando olhares rápidos com o menino que estava completamente sério. A cada momento, era um de nós que aparecia para o menino, que nos procurava com olhos atentos. 
Ponto para os palhaços! Eu já estava feliz por ter conseguido pelo menos um olhar dele desta vez.
  
Resolvemos entrar no quarto e nos esconder atrás de objetos como camas, mesas e aparelhos. Romão e eu estávamos confiantes de que o C. não conseguiria nos ver, mas aqueles olhinhos tristes insistiam em nos perseguir. Quando não conseguimos mais nos esconder, Romão e eu paramos no meio do quarto, um de costas para o outro, os dois olhando para ele. 
  
Foi aí que o Romão falou: “Lorena, acho que estamos invisíveis. Enquanto nós estivermos encostados um no outro, ele não vai conseguir nos ver.” 
Eu achei aquilo muito estranho e perguntei: “C., você está vendo a gente?” e ele respondeu que sim, balançando positivamente a cabeça. 
Eu falei: “Romão, seu bobão, ele está vendo a gente. Precisamos usar a nossa super magia da invisibilidade!”.
  
Palhaços sabem fazer magia? 
Palhaços ficam invisíveis? 
  
Romão e eu fizemos uma magia, mas não ficamos invisíveis. 
Nossa magia consistia em dar giros, pulinhos, chacoalhar a cabeça freneticamente e fechar os olhos, sempre de mãos dadas. 
Ao final da magia, Romão, ainda de olhos fechados, disse: “Lorena, eu não estou vendo nada. Acho que funcionou. Ficamos invisíveis!”. 
  
Eu, desconfiada que sou, espiei o C., abrindo um dos meus olhos. O menino estava vidrado na gente. Eu perguntei se ele estava nos vendo, mas silenciosamente, me comunicando com o garoto apenas através de gestos. E o menino respondeu que sim, balançando a cabeça novamente. Enquanto isso, o Romão estava todo feliz, de olhos fechados, acreditando na sua invisibilidade.
  
Foi aí que eu resolvi enganar o Romão e disse: “Romão, cadê você? Não estou te vendo... Bom, eu vou ali com o C. e já volto. Você não tem medo de ficar sozinho, né? Vamos, vamos, C. Tchau, Romão.”
Depois dessas frases, eu fiquei completamente em silêncio. E Romão ficou completamente apavorado, acreditando estar sozinho.
Daí pra frente, C. e eu nos unimos para assustar cada vez mais o Romão. A cada ideia nova, eu me comunicava por gestos com o ele e pedia a sua ajuda. O menino sempre olhava pra mim e fazia um “joia” com as mãos, concordando com as minhas maluquices. O C. estava adorando ver o Romão com medo.
Eu comecei a fazer barulho de chuva, trovões e raios, e a falar com uma voz bem grossa: “Romão, eu sou o fantasma da chuva. Vou te levar para um lugar horroroso, com cheiro de ovo podre e cheio de baratas!”
  
Romão ficou morrendo de medo e fugiu do quarto, mantendo os olhos fechados. Eu saí atrás do Romão, mas antes dei um tchau para o C. que me respondeu com seu “joia” e um último olhar, não mais triste, agora alegre.
  
Palhaços sempre fazem rir?
Olhos podem sorrir?
Palhaços ficam felizes quando os olhos de um menino sorriem?
  
Vocês podem me perguntar se o C. deixou de ser sério. E eu respondo que não. Aliás, não ganhamos nenhum sorriso dele. Não com a boca. Em compensação, os olhos dele ficaram o tempo todo grudados na gente, sorrindo que só.
Palhaços nem sempre fazem rir, mas ficam muito felizes quando os olhos de um menino como o C. sorriem.
  

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Heitor – O Guia


Relato enviado pelo voluntário Henrique (Palhaço Heitor)
 


 

Quando estamos em um hospital tão cheio de atividades e detalhes como o GRAACC, sempre é bom contar com a experiência e os conselhos de um bom guia para que possamos saber o que fazer, para onde ir, etc...
 
Um dia desses, na recepção, um grande grupo de pessoas se levantou ao mesmo tempo dos sofás. Heitor e Jamal, que estavam por lá, logo perceberam que aquele monte de gente só poderia ser uma excursão! Claro!!
 
Heitor prontamente se apresentou como guia turístico e na companhia de seu amigo Jamal, que apontava e demonstrava tudo o que Heitor dizia, passou a fazer o seu excepcional guiamento:
 
- À sua direita, o elevador, à sua esquerda, aquele corredor.
Ora, vejam! Uma pessoa de bigode! Bigodes são altamente normais no GRAACC, fiquem tranquilos. 

 
O grupo caminhava e se divertia.
 
- Aqui no GRAACC temos muitas cores – Jamal apontava para as cores das camisas de quem passava.
 
Mais risos...
 
- Esta é a recepção! Aqui vemos um típico médico muito bem qualificado. Este elevador é o que chega, está chegando, chegou. Elevadores no GRAACC chagam mesmo, é o que eles fazem. Nele vocês entram, sobem, descem, tanto faz! No GRAACC elevadores sobem e descem!   
 
O grupo inteiro ocupou o elevador que chegou. Dentro do elevador eles riam e agradeciam pelas informações.
 
Heitor concluiu seu guiamento:
- Bom passeio para vocês, boa excursão e divirtam-se!
 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Porco Azul

 
Relato enviado pelo voluntário Pedro (Palhaço Jaime)

 


Jaime e Xurumi chegaram à brinquedoteca do GRAACC e encontraram algumas crianças sentadas em uma mesa e fazendo recortes. Jaime observou que todas elas estavam recortando corações e pediu um coração para ele.
 
As meninas disseram que não dariam o coração para Jaime e que ele é que devia fazer um com cartolina e tesoura. Jaime disse que não sabia, mas as meninas os incentivaram e lá foi ele começar a recortar...
Recortou, recortou, recortou e no final exibiu com muita felicidade sua obra de arte!!!
 
As crianças olharam... olharam... e, após alguns segundos, uma delas falou: “Mas isso não é um coração...”
Jaime: “E o que é então????”
Uma das meninas: “É um porco azul!!!!!!!”
 
Jaime ficou desolado e as meninas riam... riam e riam...
 
Jaime largou a tesoura, a cartolina e, abraçado com seu porco azul, começou a sair do local...
 
Neste momento uma das crianças chamou o Jaime e entregou para ele um coração que tinha acabado de fazer!!!
 
Jaime pegou o coração, juntou com seu porco azul e saiu de lá feliz da vida!