Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Tem um palhaço no meu banheiro.

Relato enviado pelo voluntário Tomás (Palhaço Estafúrcio)



A
o entrar num quarto nunca sabemos qual jogo acontecerá nem qual será a proposta. Às vezes elas surgem rapidamente, outras vezes deixamos que a relação se estabeleça para que surja alguma proposta.

Há 3 semanas estive no hospital com o Romão, companheiro antigo de ONG. Estávamos no quarto de um menino de 8 anos que topou trocar boas risadas por “um Romão preso no banheiro”. Sim, sob um argumento qualquer Romão entrou no banheiro e eu o tranquei por lá dizendo que a porta tinha travado. Ficamos um bom tempo conversando e eu prometendo que iria atrás de um chaveiro para resolver a situação. Em determinado momento destranquei a porta e o Adê, percebendo isso, saía de vez em quando e conversava com o menino dizendo: “Ele vai demorar muito para vir me soltar do banheiro? Será que vou ficar muito tempo aqui dentro?”, voltando pra dentro do banheiro na sequência. Terminamos quando numa destas saídas o Romão percebeu que eu estava por lá e saiu brigando comigo por eu ter trancado a porta de propósito.

No nosso dia a dia vivemos situações como esta, que ficam estanques no tempo e que deixam também algumas memórias em nós.

Semana passada estive novamente no hospital, desta vez com o Malavazzi. Visitamos uns 15 quartos neste dia e num deles a proposta de jogo surgiu num piscar de olhos. Um garoto muito receptivo tentava se comunicar comigo enquanto fazia inalação. Em poucos segundos percebi que ele queria que eu prendesse o Malavazzi no banheiro. Sim, era o mesmo garoto do outro dia. Ele ainda lembrava da cena e estava muito animado para revivê-la. Malavazzi não sabia de nada mas logo o conduzi ao banheiro para seguir novamente na cena já conhecida. Cada um tem uma maneira de lidar com as situações. No caso do Malavazzi, enquanto preso ele gritava desesperado querendo sair o mais rápido possível por estar muito fedido lá dentro. Risadas ainda melhores surgiram e o garoto parecia não enjoar de tudo aquilo. Porta travada, Estafúrcio tentando abrir, até que consegue. Desta vez não há evidências de que eu tivesse trancado de propósito então Malavazzi tenta fazer com que o menino me entregue assumindo que eu havia causado tudo aquilo. Ao ser questionado o menino garantiu que a porta tinha travado sozinha e que eu nada tinha com isso. Malavazzi insistiu 2 ou 3 vezes mas o garoto ficou firme e não entregou o Estafúrcio...

É assim que as coisas são, amigo é amigo! Como é que ele ia entregar um amigo assim pra um palhaço qualquer?? Lógico que eu saí de lá bem contente, não é todo dia que a gente pode contar com amigos tão fiéis assim.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Aula de canto muito, mas muito especial!!!


Relato enviado pela voluntária Adriana (Palhaça Múrcia)




Que lindo sábado! Que lindo dia de trabalho no GRAACC!
Além de muitos jogos bons entre Romão e Múrcia, ainda tivemos um acontecimento fantástico!!

Quando estávamos na porta do quarto do F., o enfermeiro nos disse que ele estava bem mal. Mesmo assim entramos. A mãe nos recebeu muito sorridente, mas disse que o filho não estava bem... tinha tido muitas convulsões naquela manhã.

F. estava deitado imóvel e com uma aparência muito cansada.
Ele estava com alguns aparelhos e ainda tinha uma lágrima que tinha ficado parada no ladinho do seu olho direito. Provavelmente a última crise tinha sido muito recente.

Neste momento eu não sabia o que fazer... pensei em propor cantar uma música com o meu parceiro, mas tudo parecia meio vazio e distante... foi quando ouvimos um som vindo da TV. Alguém cantava lalalalalalala, como se fosse uma aula de canto.

Romão nos contou que já tinha feito aulas de canto e começou a fazer lalalalalalala! Eu achei lindo e acompanhei: lalalalalalala!

Aí pedimos pra mãe entrar no nosso curso e cantar lalalalalalala. A mãe ficou tímida e envolvemos o F. dizendo que ele deveria ensinar a mãe.
Enquanto discutíamos um pouco, F. começou a soltar um som... era um som que vinha lá do fundo, meio rouco, não era exatamente um lalalalalalala, mas o ritmo era o mesmo! Elogiamos a performance musical dele!! E ele repetiu!! Percebemos que ele estava cansado e explicamos pra mãe que aula de canto cansava mesmo... mas que era pra ela começar a fazer!! E assim, um pouco cansados de tanto lalalalalalala, também saímos do quarto.

Estávamos os dois emocionados, mas o jogo continuou...
No fim da nossa visita, quando pegamos o elevador para o térreo, encontramos a mãe do F.!
Perguntamos se ela tinha feito aula de canto e ela nos contou que depois que saíamos do quarto ele ainda continuou cantando!

Definitivamente o nosso encontro com o F. será um caso que vou levar pra sempre no meu baú, uma história que vou contar pra muitas pessoas e que provavelmente sempre vai me emocionar. Tenho certeza que pro Romão também!

Pensando em tudo o que aconteceu, percebo que Romão e Múrcia não fizeram nada sensacional, nenhum jogo fantástico, nenhuma proposta maravilhosa, mas a simples presença deles lá permitiu que o F. fosse sensacional!! E como ele foi!!