Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ricota, Lourival e a Menina de Trança


Relato enviado pelo voluntário Cristiano (Palhaço Lourival)




Coulrofobia, como toda fobia, talvez possa ser tratada, mas quem somos nós para nos meter nisso? Né, Ricota? Mas curiosidade é talvez outra doença a ser combatida, porque aquela menina de trança, embora não viesse falar conosco, não parava de nos seguir.

Visitamos todos os quartos daquele andar, e ela fugindo, entrando embaixo de camas, atrás de paredes e portas, sempre fugindo, olhando de longe, curiosa, sorridente, mas com medo.

Medo de que? Coulrofobia é o medo de palhaço, coisa comum, mais do que se imagina, sempre se encontra criança que não quer nem olhar para o palhaço, mas naquele dia Ricota e Lourival ajudaram a quebrar um pouquinho disso...

A menina de tranças foi procurada e, mesmo quando encontrada, não era vista, procurávamos sem a ver, pois ela não queria ser encontrada, queria talvez só brincar, aliviar seu medo e esquecer onde estava, voltar a ser criança e não só paciente, livre, solta, correndo pelos corredores, entrando nos leitos de outros pacientes, sorrindo de longe, um pega-pega, um esconde-esconde, não com a gente, mas com seu medo.

Algumas técnicas, por mais que se estude a arte do palhaço, não permitem sequer uma aproximação; para quem tem medo, qualquer coisa, qualquer movimento, é assustador: cair, apanhar, cantar, dançar, nada funciona, então não brincamos e não a achamos, apesar de procurar, chamar e não achar, onde está a menina de trança?

Subimos e descemos, visitamos de tudo em todos os andares, risadas, choros, nenês, adolescentes, mães e pais e, já na saída, em nossos últimos passos, uma enfermeira nos chamou – havia uma menina, no andar de baixo, uma de trança, perguntando por nós... seu medo havia sido levado conosco, será?

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A compra de um possante!

Relato enviado pela voluntária Rubia (Palhaço Dalila)
 

Carrinhos de vários modelos, cores e tamanhos enfeitavam a janela de um quarto, no hospital Darcy Vargas. Dalila abriu a porta e perguntou se ali era uma loja de automóveis e que gostaria de comprar um carro. Tadeu rapidamente virou o vendedor da loja e o Bordô se transformou num belo marido (o dono do dinheiro).

No quarto, uma criança muito debilitada, sem condições de falar, por causa dos aparelhos. Mas, os olhos diziam muitos mais que simples palavras. Olhar atento aos nossos movimentos.

Bordô pergunta à sua esposa Dalila que tipo de carro ela gostaria de ganhar. Ela, muito esperta, solta que gostaria de um carro conversível, com um botão que oferecesse chocolate a qualquer momento. O vendedor Tadeu não perdeu tempo e demonstrou as vantagens daquele carro que estava disponível na loja.

Insatisfeita, Dalila solicitou que outro veículo fosse demonstrado. Também não aceitou um carro verde oferecido pelo vendedor, afinal, Dalila é Tricolor! Bordô, rapidamente, exigiu outro carro. Tadeu fez uma exaustiva apresentação de um carro que era ótimo para pegar ladeira, mas apenas na descida (?).

Bordô, surpreendentemente, decidiu comprar o veículo e perguntou quais as formas de pagamento. Tadeu gostaria de receber beijos de Dalila como forma de pagamento. Para piorar a situação, Bordô aceitou a proposta e claro que Tadeu adorou e ficou todo saidinho. Mas, estava bom demais para ser verdade!

O casal pregou uma peça naquele atrapalhado vendedor. Bordô pediu para Tadeu fechar os olhos para realizar o pagamento. Mas, ele acabou beijando uma deliciosa bexiga, que o Bordô tinha no bolso de sua calça.

Está pensando que é fácil desse jeito??? Bordô e Dalila, rindo do vendedor Tadeu, ligaram os motores do possante e foram embora do quarto.

Pelos olhares atentos, o pequeno garoto e a sua mãe desejaram uma boa viagem para Dalila, Bordô e Tadeu!

 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Segredo da Levitação

Relato enviado pelo voluntário Marcos (Palhaço Tadeu)
 
 

A vida realmente é cheia de mistérios!!! Eu realmente fico muito feliz quando a gente consegue desvendar algum!
 
Há algumas semanas atrás, Tadeu e Dalila estavam no Hospital Darcy Vargas, quando se depararam com uma garotinha (R.) que estava no corredor caminhando segurando o seu suporte de soro (que possui rodas), porém, em alguns momentos ela usava o suporte de soro como uma espécie de skate e deslizava como se estivesse levitando.
Logo ficamos impressionados com o poder da R. em levitar, e com as bocas abertas dizíamos: “Nossssaaaa!!!! Como você consegue levitar????”.
Foi maravilhoso porque após ter escutado o nosso comentário, R. fechou seus olhos como se estivesse em um tipo de transe, somente para comprovar que realmente tinha um grande poder!
 
Dalila então tentou se comunicar com R. que de início não respondia. Mas, usando seu poder de comunicação telepática, colocou os dedos entre a cabeça e começou a emitir sons... Dalila perguntou novamente: “R., você está aí??”.
Ela também colocou os dedinhos na cabeça, tentando sintonizar Dalila. Tadeu fez o mesmo e logo estavam os três numa grande conferência mental um do lado do outro. 
 
Tadeu perguntou: “R., como você consegue Flutuar??”
Ela fechou a cara e não respondeu, pois somente ela tinha esse poder!
Dalila então disse que tentaria pegar o poder de R., respirou fundo, sentiu uma energia e tocou no Tadeu! Mas isso não deu muito certo!
Tadeu começou a tremer, fechou os olhos, esticou os braços pra frente e começou a flutuar feito um zumbi e dizendo “Eu estou flutuannndo, flutuanndo...”. Tadeu andava meio sem direção e ia de encontro a todas as pessoas que estavam no corredor, que por sua vez fugiam dele às gargalhadas. 
Dalila trouxe Tadeu de volta dando um peteleco na cabeça! Ao mesmo tempo, Dalila tentava entender porque não tinha dado certo, foi quando ela percebeu que na mão da R. tinha um pequeno Jacaré, e logo deduziu: “Ahhhh já sei Tadeu, ela está com o jacaré mágico!!”.

R. saiu de supetão flutuando. Tadeu ficou pensativo e quis perguntar à Dalila se era realmente o Jacaré que fazia com que ela levitasse, mas, antes mesmo dele perguntar, viu a R. voltando flutuando! Mas agora o seu jacaré estava sobre a base do Flutuador, bem destacado, o que comprovava que o jacaré realmente era mágico!!!

O máximo foi saber que quem flutua na verdade possui um jacaré mágico. Será que é esse o segredo do Aladim, Magneto e do Ben 10???
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Obrigado de Coração!!!

Relato enviado pela voluntária Viviane (Palhaça Dália)
 
 


Há uns dias atrás, no andar da UTI do Hospital Menino Jesus, Quincasss e eu paramos em frente à janela do único quarto que faltava para visitarmos. Um menino entubado, com o rostinho machucado, estava deitado no leito, uma enfermeira estava junto a ele, assim como uma moça usando máscara. Ele parecia realmente mal.
  
Perguntamos à enfermeira se tínhamos a permissão para entrar e ela disse que sim. Descobrimos o nome do menino: S.! Seus olhos estavam fechados e pensamos que ele estava dormindo.
A enfermeira disse que ele estava, na verdade, acordado, e que poderia ouvir tudo o que a gente dissesse! A outra moça, que revelou ser sua tia, conversou um pouco com a gente.
Então, Quincasss me perguntou: “Dália, você sabe cantar alguma música?”; e eu disse que sabia cantar de tudo. Pedi para a tia nos dizer o que S. gostava de ouvir, e ela falou que ele era fã do Luan Santana.
  
Comecei a cantar o refrão de “Meteoro da Paixão”, dedicando para o S.! ♫ Ah! Como é bom poder te amar, S.!
Quincasss ia repetindo os versos depois de mim.
 
De imediato, a enfermeira e a tia apontam para aquela máquina que mostra os batimentos cardíacos do paciente. 
A enfermeira disse: “Olha! O coraçãozinho dele está batendo mais forte!”.
E não é que estava mesmo? Da média dos 90 batimentos por minuto, ele já tinha ido pros 110!
  
Acho que todos no quarto ficamos emocionados naquele momento!
S. não conseguia nos agradecer com os olhos, com um sorriso, ou com gestos, então decidiu nos retribuir com o que há de mais sincero: o coração!
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Saga dos Mudos

Relato enviado pelo voluntário Marcos (Palhaço Tadeu)
 
 



É fantástico saber que mesmo em silêncio consegue-se provocar sons nos outros na forma de risada!!
 
Chegamos à porta do quarto e sem dizer nenhuma palavra, olhamos para dentro, soltamos um belo sorriso e fizemos um sinal com as mãos perguntando se podíamos entrar.
Havia duas crianças com olhares alegres e empolgadas com a nossa presença. Além delas, tinham duas mães sentadas no sofá que ficava no fundo do quarto, que responderam nossa pergunta. Sorridentes, elas fizeram um sinal de joia com o dedão.
 
Dalila estava bem folgada, encostada no batente da porta de forma que o seu sovaco ficasse na altura do nariz do Tadeu, que logo fez uma cara de quem não estava gostando muito do cheiro que saia de lá e empurrou Dalila para dentro do quarto.
Dalila ficou isolada no piso azul. Tadeu então fazia cara de triste e perguntava com a cabeça como chegar até Dalila. Tadeu tentou dar um passo pra frente mais ele girava por completo e voltava no mesmo lugar. 
Dalila pensou coçando a cabeça, parou, estalou os dedos e começou a girar uma manivela imaginária, que imediatamente fez puxar Tadeu em sua direção. Cada, girada que Dalila dava era um movimento para frente de Tadeu. Até que Tadeu enfim chegou ao piso azul e ficou junto com Dalila, porém, quando Dalila foi comemorar, soltou a manivela e Tadeu escapou (emitindo um som com a boca, parecido com rebobinando uma fita VHS – se alguém se lembrar disso é claro) e voltou com tudo para a onde estava antes. Tadeu começou a chorar e ficou muito triste. Atrapalhada Dalila, vendo o que tinha feito, girou a manivela de forma bem rápida e Tadeu voltou ao piso azul.
  
Agora os dois tinham que seguir em frente, a onde havia mais a frente um próximo piso azul. 
Tadeu, pensativo, teve uma ideia. Começou a soprar um balão e entregou nas mãos de Dalila que flutuando conseguiu chegar ao piso azul seguinte. Nesse momento escutamos das crianças e das mães um: “Aeeeee!!!”.

Tadeu olhou para Dalila e fazia movimentos pedindo a ela que jogasse o Balão de volta para ele. Dalila (como sempre atrapalhada) jogou o balão, porém, soltou muito alto e Tadeu não conseguiu pegá-lo e ficou seguindo com os olhos vendo o balão se perder no céu. O sorriso de Tadeu virou imediatamente um misto de tristeza e raiva. Dalila, logo deu um jeito jogando uma corda e puxando Tadeu em sua direção.
Nesse momento o “Aeeeee!!!” vindo das crianças e das mães, foi ainda maior. Os dois se abraçavam felizes.
 
Dalila, então, tirou a sua Flauta Mágica do bolso, fez um volante de carro, deu uma buzinadinha para o Tadeu, (que por sua vez entrou no carro) e os dois saíram felizes. Saíram com mais sons, porém, agora de aplausos.
  
Foi uma delícia!!
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Missão dada parceiro, missão cumprida!!!

Relato enviado pela voluntária Rubia (Palhaça Dalila)
 
 
Não tivemos tempo de pensar e muito menos de jogar uma proposta. Assim que entramos no quarto de D., ele ordenou a missão daquele quarto, no hospital Darcy Vargas: “Dalila, entre no banheiro mágico!”
 
Uau, como aquele garoto de aproximadamente 8 anos, com cabelo estilo Neymar, sabia o meu nome? Ah, ele se lembrou de mim e também da minha primeira cena no Darcy Vargas!!! Na ocasião, eu e a minha parceira Janja fizemos o jogo do banheiro mágico com ele.
  
Nossa, meus olhos brilharam e o meu coração se encheu de alegria.
 
Eu obviamente aceitei a ordem imposta pelo capitão D. e arremessei o meu parceiro Ricota dentro do banheiro mágico. Ele se transformou em várias coisas, como um balão, uma velha com dor nas costas, etc.
  
Ao fundo, muitas risadas de D., familiares e de outra criança que também estava internada no mesmo quarto. Eu também fui jogada dentro do banheiro mágico, onde me deu um ataque de soluço. Ricota, preocupado, me retirou do quarto com o argumento de que me levaria para tomar água.
  
Para nós missão cumprida, afinal, saímos no auge da cena, no ápice da proposta e seguimos para outros quartos. Quando finalizamos aquele andar passamos novamente em frente ao quarto do capitão D. que, prontamente, nos acenou com a mão. Aquele olhar já me dizia: Tá de sacanagem comigo, duplinha?!
 
Capitão D. nos intima e impõe outra missão que era finalizar a cena do jeito que ele queria e ordena: Vocês precisam se transformar em palhaços.
 
Uau. Ele se lembrou também do final da minha primeira cena. Eu e a Janja finalizamos a proposta se transformando em palhaças.
 
O que me restava fazer naquele momento? Aceitar a missão. Joguei Ricota no banheiro mágico e disfarçadamente disse que ele precisava se transformar em palhaço. Também entrei e deixei me contaminar por essa magia e virei também uma palhaça. 
 
Só sei que nada sei, rapá. Missão dada, missão cumprida!
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Casamento de Dalila e Tadeu

Relato enviado pela voluntária Rubia (Palhaça Dalila)
 


Dalila e Tadeu caminharam com a clássica marcha nupcial tocada pelas cordas vocais de Charles no quarto do pequeno G., no hospital Darcy Vargas. 
 
Charles responsável pela cerimônia estava muito confuso, não sabia nem o nome dos noivos. Na verdade, quem conduziu toda a cerimônia e armou essa confusão foi o próprio garoto G. Ele falava, ao pé do ouvido, para o padre Charles os nomes errados dos pombinhos propositalmente. 
 
Para deixar o casal ainda mais nervoso, o G. disse que tinha uma barata no altar causando histeria e atrasando o casamento. 
 
Depois de muitas confusões e desencontros, o padre Charles decidiu soltar a pergunta mais esperada daquele momento: “Se alguém tem algo contra este casamento que fale agora ou cale-se para sempre!”. Incrivelmente todo mundo concordou até mesmo o casal de padrinhos, formado por G. e sua mãe sorridente. Muitos aplausos!
 
Seguindo a tradição, Dalila jogou o buquê para a alegria da única mulher presente na cerimônia – a madrinha sorridente mãe de G.
 
Depois de seguir todos rituais de um belo casamento, Dalila e Tadeu seguiram para a lua-de-mel. Os recém-casados entraram no carro enfeitado com várias latinhas de alumínio penduradas no para-choque (Charles foi responsável pelo barulho das latas).
 
Para nossa surpresa, o nosso querido padre pediu uma carona e os três seguiram para a lua-de-mel.
 
E quem disse que o problema era o barulho das latinhas, hein!?!?!?