Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

terça-feira, 20 de março de 2012

O batismo de Dalila


Relato enviado pela voluntária Rubia (palhaça Dalila)





Bom dia! Posso entrar? Foi com essa pergunta, desengonçada e receosa da reação que viria a seguir, que a experiente Janja, uma das veteranas palhaças da equipe Operação Arco-Íris deu início à sua estratégia para iniciar o diálogo no quarto do garoto R., no Hospital Infantil Darcy Vargas.


Naquela manhã de sábado ensolarada, o tempo fechou naquele pequeno quarto de paredes brancas, com camas hospitalares, quando o “petit” para provocar, resolve recusar a presença de Janja com o típico trejeito de balançar a cabeça de forma negativa.


Surpresa com aquela atitude, não tive outra reação, e decidi entrar no jogo meio que para socorrer a minha parceira. Janja dá meia volta para sair do quarto, com aquela ânsia de ouvir – ‘Ei, volta, tava brincando’. A situação constrangeu até a própria mãe do garoto que questionou a atitude do garoto.

De forma sorrateira e com um semblante de esperteza, todos são surpreendidos ao vê-lo responder com um sorriso no rosto, tipo ‘tô sacaneando vocês’.


A partir daí, as coisas começaram a fluir. Decido seguir o roteiro, Dalila resolve interagir e, do nada, aparece na porta do quarto, caminha até a cama de R. e solta: ‘Bom dia, eu posso te dar um picolé’? Com um sorrisinho maroto no canto da boca e com aquela feliz expressão de que a brincadeira estava começando, ele também decreta definitivamente que está no jogo: Não!, respondeu com a firmeza que as minhas pernas deveriam ter nessa minha primeira experiência, mas que insistiam em tremer.

Dalila, então, pensa rápido e após aquele lacônico “não”, resolve se retirar do quarto de cabeça baixa, encenando uma falsa tristeza para ver até onde ia dar esse drama todo que o moleque planejou para nós. Sai Dalila, entra Janja no quarto que novamente levou um não de R. Ele estava decidido. E nós também.


Tínhamos que pensar rápido e bolar algo para ‘quebrar o gelo’ e desmontar aquele garotinho de aproximadamente 7 anos.

Eis que Dalila enche o peito de ar, demonstrando segurança e com a sensação de que agora iria conseguir a façanha, põe sua cabeça na porta, meio corpo entrando no quarto e dispara: ‘Bomdiaaaaa, você quer uma amiga?’ Foi a deixa para R. rir alto e de pronto responder: Nãoooo !

Rosto desolado, decepção geral, Dalila se retira do quarto, mais uma vez, com um suposto sentimento de batalha perdida para a alegria de R. e para dar uma nova chance a Janja.

Janja decide, sem saber, pois estava fora do quarto, seguir o mesmo roteiro de Dalila, e tentar de vez cativar a amizade do moleque, quando solta: ‘Bom dia, posso ser sua amiga’? E não é que R. resolve amolecer conosco e solta um poderoso simmm. A partir daí foi uma festa. A aceitação dele foi motivo para Janja soltar fogos de alegria dentro do quarto.

Dalila, obviamente, inconformada com a sua rejeição entra no quarto com cara de pastel e fala bem baixinho para Janja: - ‘Ei, eu também ofereci uma amiga a ele, mas ele recusou na cara dura.’


A partir daquela declaração, de fato, começou a competição sadia e lúdica da mais nova dupla Janja e Dalila. Ali foi dado o start para o desenrolar do jogo. Após Janja ficar na frente do placar em 1x0, Dalila tenta a recuperação, se esforça e de uma forma antiesportiva oferece guloseimas ao garoto, como uma bomba de chocolate. R. aceita e o placar empata. Janja contra-ataca e oferece pipoca doce – R. aceita.

E, nesse ritmo, prosseguiu o jogo. Dalila e Janja oferecendo o melhor para R., que se deliciava com as gostosuras que oferecíamos, tudo isso, enquanto nos deliciávamos com as risadas satisfeitas de sua mãe, ao ver seu filho alegre e feliz.


A cada ponto registrado no placar, uma dancinha e muita festa em comemoração. E nesse clima continuou o jogo com o placar acirrado até que Janja apela e solta que pediria ao jogador Liedson, do Corinthians, que o homenageasse com cinco gols no próximo clássico.

Naquele instante, senti um misto de alegria e decepção (Dalila é tricolor), pois confirmei que ele era corintiano e como todo torcedor do Timão também vibrou muito com o presente que ganharia.

A pó-de-arroz Dalila, para não ficar por baixo, disse ainda que além dos gols em sua homenagem, o levaria ao estádio para assistir uma partida do coringão, com direito a uma camisa do time autografada por Liedson. R. foi aos céus e com uma risada deliciosa aceitou o meu presente. Dalila leva a vitória comemorando com uma dancinha à la Neymar, mesmo R. sendo corintiano e, enfim, respirou aliviada. Estava batizada.

Dizem que promessa é dívida e precisa ser cumprida à risca.

Espero poder, num breve futuro, honrar o prometido. E hei de conseguir!...Será?

3 comentários:

LOUriVAL disse...

Dalila, que bacana!!! Mas iludir uma criança é um pouco triste né...Liedson fazer 5 gols? Parabens pelo jogo!

Rubia Souza disse...

Obrigada Lourival! Concordo com vc.Se fosse o Luis Fabiano seria fácil acreditar né! beijos, Dalila.

Cindyfuji disse...

A Dalila podia ser corinthiana né?Nem tudo é perfeito na vida dos Clowntorcedores