Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Peguei um peixe!!!


Relato enviado pelo voluntário Pedro (Palhaço Jaime) 

 

Entramos no quarto de L., um menino que tinha nome de cantor e estava deitado assistindo Televisão. Começamos a falar sobre vários assuntos e descobrimos que ele gostava muito de futebol e que era muito bom jogador! 
 
Chegamos à conclusão de que a união entre o nome de cantor e o talento para o futebol faziam uma junção perfeita, pois quem pede música é porque fez três gols... Sim, a piadinha foi ruim, mas menino prontamente concordou!!! Rsrsrsrs.
 
Alguns jogos aconteceram e, então, uma nova e importante revelação: O menino disse que adorava pescar e que tinha muita prática. Pescava com minhoca, camarão, isca artificial...
 
Neste momento, Jaime ergueu sua vara de pescar e começou a pedir orientações ao menino e ele prontamente atendeu!
 
- Levanta a vara de pesca... Jaime levantou...
- Agora, coloca a minhoca... Jaime colocou...
- Agora JOGAAAA... Jaime se preparou para jogar a vara inteira e o menino muito rapidamente disse: “A VARA NÃO!!!! SEGURA A VARA DE PESCAR E JOGA A LINHA COM A MINHOCA!!!”
 
Jaime se preparou, mirou e jogou com bastante força. Neste momento, D. Saradona, ou melhor, a peixe Saradona, passava pelo local e mordeu com força o anzol...
 
L. ria muito e Jaime tentava fisgar aquele peixe!
 
L dizia: Puxa a vara... mas Jaime não conseguia, pois a peixe Saradona, como o próprio nome diz, era muito forte.
 
O peixe fazia muita força e Jaime começou a ser arrastado em direção a porta... O menino mandava puxar, mas o peixe era mais forte!!! Enfim... quem pode com um peixe tão Sarado assim!!!
 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

De volta pra casa


Relato enviado pela voluntária Daniela (Palhaça Janja)

 



Encontramos no 4º andar a Dona A. do carrinho de comida e ficamos ouvindo ela contar a história do Sururu láaaaaaaaa de Alagoas. Oh mulher boa pra contar história. Ela é do tipo mãezona, acolhedora, com um sorriso largo no rosto, dentes brancos e perfeitos e que te faz sentir bem logo de cara.
Ricota e eu ficamos nos deliciando ouvindo ela contar a história. Fomos embora daquele andar, mas encontramos Dona A. novamente no 6º andar, quando já estávamos de saída. 
 
Eu disse pra ela: Dona A. amei a senhora e o tal do sururu, posso te dar um abraço? 
 
Ela: Oxi, mas é claro que sim. 
 
E nos abraçamos sem pressa de largar. Sabe aquele abraço longo e acolhedor?! Pois é, eu acho que eu estava precisando de um desses e não queria mais soltar.
 
Quando eu finalmente larguei Dona A., ela estava com os olhos cheios d´água e disse: Olhe, eu estava tão desanimada e triste. Hoje cedo me ligaram lá de Alagoas pra falar que minha mãe sofreu um derrame. Eu tava aqui com meu coração apertadinho e só pensando em “mainha”. Esse abraço foi a melhor coisa que podia ter me acontecido.
(Acho que nós precisávamos uma da outra). 
 
Falei pra ela: Não seja por isso... 
Abri os braços, bem grandão, como se fosse o Cristo Redentor e disse: Me abrace mais!!!!
  
Nos abraçamos mais e fui embora dali refletindo sobre aquele momento.
Várias coisas fervilhavam na minha cabeça, quando Ricota disse: Janja, acabou nossa visita. Vamos nos trocar?
  
Eu disse: Não. Vamos embora assim. Quero ir pra casa assim... Janja.
(Uma das coisas que passavam pela minha cabeça quando Dona A. falou de sua mainha foi que faz 10 anos que meu pai teve um derrame e encontra-se numa cama totalmente dependente de seus familiares e ele nunca conheceu a Janja. Me senti em dívida com ele.).
 
Ricota entendeu, entrou no clima e disse: Vambora então !!!! 
 
Fomos.
 
Cheguei em casa e fui direto para o quarto do Seu Ricardo.
 
Eu estava tão eufórica que nem tive tempo de entender o ambiente, bater na porta e perguntar se eu podia entrar... nada... já cheguei chegando.
Ele tomou um susto porque estava um pouco sonolento.

Eu disse: Vamos abrir essa janela e deixar o sol entrar?
 
Ele já meio rindo disse: Pra quê? Eu não posso ir lá fora!
 
Eu retruquei: Então deixa o lá fora entrar aqui dentro.
 
Ele me respondeu com um gesto que só quem o conhece sabe o que estou dizendo. Subiu o ombro, levantou a sobrancelha e balançou de lado a cabeça.
 
Perguntei: Qual é o seu nome mesmo?
  
Ele: RI ....... RI .... RI .... CARDO. E o seu?
 
Respondi: O meu é Janja! Muito prazer!
 
Ele: Janta?
 
Eu: Não. Janja.
 
Ele: Almoço?
 
Eu: Ah vai te catar! Tá achando que eu sou palhaça? Tchau, foi um prazer e eu vou embora.
 
Ele segurou minha mão muito forte e disse: Como vai, como vai, como vai...
 
E eu: Muito bem muito bem bem bem!
 
Eu mesma já não sabia mais quem era o palhaço da história. Nos divertimos muito. Ele se deliciou com a visita e eu mais ainda. Foi incrível e talvez um dos momentos mais emocionantes que eu vivi enquanto Janja. 
 
Sabe aquele momento que marca pra sempre e você já sabe que vai contar para os netos? Então, esse é um desses momentos. Me despedi dele e fui embora com uma sensação maravilhosa que jamais conseguirei descrever e com perguntas que não sei se um dia saberei responder.
 
Quem precisa mais de um abraço? Eu ou outro?
 
Quem tem mais espaço, a criança ou o adulto que moram em mim?
 
Como anda o palhaço que habita em mim?
 
As nuvens são de algodão?
 
Como essa flor nasceu de dentro do concreto?
 
Por que motoboy buzina tanto?
 
Não precisa responder...
 
Eu não quero entender...
 
Acho que a palavra é SENTIR.
 
E o resto?
 
O resto que se exploda!!!

 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Bengala do Medo


Relato enviado pelo voluntário Dantas (Palhaço Quincasss)
 





Entramos em um quarto onde estavam uma mãe em pé ao lado do berço, o seu bebê dormindo, na outra cama um garoto adolescente e sua acompanhante, uma senhora idosa deitada no sofá.
  
Lola e eu vínhamos de um quarto onde tinha rolado uma cantoria, então já chegamos falando que íamos cantar, mas a acompanhante mais idosa já pegou sua bengala apontou para mim e disse: “Se o bebê acordar vocês estão fritos!!”
 
Eu fiquei com um medo só, e todo mundo já começou a rir, menos o bebê que continuava dormindo.
A Lola insistia que eu podia cantar, e cantar o Camaro Amarelo! 
 
Quando eu ia começar a cantar, já via a mão na bengala, e me dava um medo danado, e todo mundo ria, mas o bebê dormia... E a Lola insistia para eu cantar e o medo aumentava, e a mão na bengala, e todo mundo rindo e eu com medo, mas precisa cantar, porque a Lola tava mandando, e a mão tava na bengala, e todo mundo rindo, e eu com medo. Então cantei e cantei... um olho na criança, outro na bengala, e cantando bem baixinho, e todo mundo rindo!
 
Saímos do quarto, o bebê não acordou, eu não apanhei e todo mundo riu muito.
Ufa!!
 


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Minha Canção


Relato enviado pelo voluntário Henrique (Palhaço Heitor)



 
Em um dos quartos, entramos o Giba e eu. 
 
A pedido da enfermeira, tentaríamos nos comunicar com o E., muito pequeno, que estava se recuperando e começava a escutar os primeiros sons.
Viraram a cabecinha dele para que ele nos visse. Nós acenamos e demos um oi bem singelo.
 
A enfermeira perguntou pro E. se ele estava nos vendo: “Se você está vendo eles, pisca o olhinho”.
Ele piscou. 
Entendemos que a forma de comunicação dele eram as piscadas e ele estava voltando a escutar.
  
Depois de alguns olhares, eu disse que iria cantar uma música muito especial pra ele.
O meu parceiro Giba compartilhava com a mãe aquele momento. 
 
A enfermeira, mais uma vez: “E., se você está escutando, pisca o olhinho”.
Ele piscou.
  
Comecei a cantar “Minha Canção”, uma das minhas músicas favoritas!
O E. abriu bem os olhinhos e olhava com atenção.

Dorme a cidade... Resta um coração. Misterioso... Faz uma ilusão! ... 

A enfermeira acarinhava o bracinho dele, tão frágil... 

Soletra um verso... Lavra a melodia. Singelamente... Dolorosamente.


O Giba começava a dormir nos braços da mãe, que ria, delicada.

Doce é a mú-si-ca. Silenciosa...


O E. começou a fechar o olhinho...

Larga o meu peito... Solta-se no espa-aço!

 
O Giba roncava de leve, a mãe ria.  

 
Faz-se certeza.... Minha canção. Réstia de luz... onde dorme o meu irmão!!
E onde dorme o E.

Eu percebi o Giba dormindo também e o acordei, sussurrando que a música tinha acabado.

O olhinho do E. se abriu de leve, ele se remexeu na caminha... deixou o bracinho cair perto de mim.
Eu acenei e me despedi.
A mãe ficou muito feliz com os ouvidos do filho!
A enfermeira nos agradeceu.
Saímos, mas deixamos lá um coração de mãe e dois pequenos e lindos ouvidos.