Relato enviado pela voluntária Daniela (Palhaça Janja)
Percorremos o 5º andar e demoramos a achar um
quarto que pudéssemos entrar. Ou tinham placas azuis, verdes e vermelhas
sinalizando isolamento ou o paciente estava dormindo.
Porém, nesse quarto que entramos foi diferente. Lá
estava ele com o celular na orelha. Coloquei a metade do corpo dentro do quarto
e ele acenou com a mão dizendo que eu podia entrar. Eu entrei na frente de
Dália e disse: diz pra ela que estou mandando um beijo. Ele afastou um pouco o
celular da orelha e respondeu: eu tô colocando crédito! Revidei: Então tá,
manda um beijo pra ela mesmo assim... hahahahaha
Ele desligou o telefone e já foi logo explicando o
problema de acabarem os créditos, que as pessoas ligam a cobrar, etc, etc, etc.
Um assunto emendando no outro, ele puxou uma mala
que estava ao lado da cama e foi nos mostrando a foto dos filhos, dos netos,
falando da sua vida, das derrotas, conquistas e permanecia falando enquanto Dália
e eu ouvíamos atentamente suas histórias ora engraçadas, ora emocionantes, às
vezes até tristes. Afinal de contas quando olhamos pra trás percebemos que
temos todos os gêneros para nossas histórias: comédia, terror, ficção,
suspense, romance, aventura... A nossa vida é ou não é um filme? E o diretor
somos nós mesmos! Nossa, tenho um cargo importante! Bem, voltemos...
Entre suas narrações ele nos disse que foi um
jogador de futebol do palmeiras da década de 70.
Dei um salto e falei ajeitando a roupa mostrando
que estava de partida: - Então vou embora! Não gosto do palmeiras. Sou
Corinthians!
Ele, muito cordial e amoroso, respondeu: - Mas o
que seria do Corinthians sem o Palmeiras?!
Pequena pausa... E o que seria do Palmeiras sem o
Corinthinas?!
Olhei para Dália. Dália arregalou seus olhos de
jabuticaba e olhou pra mim. Balancei a cabeça de lado e falei: - Justo! Você
tem razão. Me dá um autógrafo aí então, vai...
Ele falou: - Mas é claro! Você pode pegar esse
bloco que está aí sobre a mesa e a caneta?
Peguei todo o material e entreguei pra ele.
Com toda educação ele nos ofereceu cadeiras para
sentar, pois ele não queria autografar de qualquer jeito, com pressa.
Nós sentamos e ele começou a decorar o papel. Usou
até esquadro para emoldurar a folha. Só não usou compasso e glitter porque não
tinha. Enquanto ele escrevia continuávamos conversando sobre vários assuntos,
inclusive futebol. Ele falava do Palmeiras e eu do Corinthians.
Finalizada a sessão de autógrafos, com dedicatórias
e decorações, nos despedimos e fomos embora daquele quarto felizes e
pensativas.
Nem sempre precisamos fazer algo sensacional, uma
cena incrível ou arrancar muitas gargalhadas.
O palhaço vai muito mais além do que arrancar boas
risadas.
Ele se relaciona com o que está se passando naquele
momento e aquele momento pode ser: eu preciso falar, eu preciso ser ouvido, eu
preciso partilhar...
E foi isso!
Ouvimos, dividimos nossas histórias com ele, ele
com a gente e agora partilhamos um pedaço dela com você.
Um comentário:
Que incrível !!! S2
Postar um comentário