Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dankon Jackson


Relato enviado pelo voluntário Luciano (Palhaço Crispim)



Estafúrcio e Crispim entraram em um quarto no quinto andar e se deparam com uma amiguinha toda tagarelante no celular: “Porque Dan isso, porque Dan aquilo, onde você esta Dan? Vai demorar pra chegar Dan? Você já esta aqui? Onde você está? Está perdido?”

Opaa!!! Estafúrcio e Crispim escutaram a palavra perdido!!
Estafúrcio: “Vamos tentar identificar onde ele está! Pede para ele descrever como é o lugar que vamos buscá-lo!!”

Nossa amiguinha começou a repetir a descrição do lugar: “Ele está em um lugar com um monte de cadeiras, um monte de gente.”
Estafúrcio: “Tem uma placa assim no teto que fica mudando os números?”
Nossa amiguinha: “Isso, isso!”
Estafúrcio e Crispim se olharam falaram: “Ele está no P.S.!! Amiguinha, você fica ai que vamos lá encontrá-lo, OK?”

Continuamos nossa visita e ao entrarmos no P.S, encontramos nosso querido Dan todo paramentado nas vestimentas do Michael Jackson (chapéu, camiseta, calça, sapatos).
Assim que o Crispim bateu o olho nele, gritou em alto e bom som: “Estafúrcio, Estafúrcio!!! É o Dankon Jackson!!”

Estafúrcio ficou todo entusiasmado e começou a pedir para nosso mais novo ídolo a ensiná-lo a dançar. Dankon Jackson, sem timidez alguma levantou no meio da galera do P.S. e começou a dançar ao ritmo da cantoria do Crispim.
Estafúrcio, nada bobo, começou a tentar aprender a incrível dança com as dicas do nosso astro: “Pula pra direita, fica na ponta do pé, faz isso, faz aquilo!”
Ainda ao som de Crispim, Estafúrcio arriscou alguns passinhos e foi aplaudido.

Crispim ficou tão empolgado que levantou e falou: “Vocês já estão preparados para uma mega apresentação!! Vão lá pra trás da parede e se preparem que vou anunciar o show de vocês!!”
Estafúrcio e Dankon Jackson começam a se preparar para a tão esperada apresentação.

Neste momento o P.S. era uma risada só! Todos ansiosos para a entrada dos nossos astros! Crispim se posicionou e anunciou o grande show: “SENHORAS E SENHORES, VINDO DIRETAMENTE DE NEVERLAND: ELE, O ASTRO DAAAAANNNNNNKONNNNN JAAACKKKSONNN!!!”

Nosso amigo Dan deu um show neste momento!! Junto com Estafúrcio, que representou muito bem todos os palhaços dançarinos do planeta. Dançaram o grande sucesso “embromado” pelo Crispim ao som do: “tu, tu, tu, tu estimionder neri esnegobi, estinionder esneri eeeessnimomó, uoridei, uorinei, uorinai”.

Ao final da apresentação todos aplaudiram o espetáculo e nosso amigo Dankon Jackson saiu com um sorriso de orelha a orelha pela apresentação.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

7 Ondas


Relato enviado pela voluntária Daniela (Palhaça Janja)



São Paulo, 10 de Janeiro de 2015, sábado, manhã ensolarada na capital.
Não só ensolarada... 37 graus é muito sol. O calor era de raxar!!!!
A dupla Olivia e Janja adentraram o andar da UTI e Janja, com seu figurino verão 2015, de chinelo nos pés, já foi levantando um alvoroço na área de enfermagem.
- Veio direto da praia é?
- Vai pegar onda?
- Tá de férias ainda?
Janja entrou literalmente “na onda” das enfermeiras e dirigindo-se aos pais/acompanhantes que estavam ali de olho na dupla falou:
- Eu vim assim pra pular as 7 ondas. Eu ainda não tive a oportunidade de pular e vou fazer isso agora. Você já pulou as 7 ondas? – indagou a um dos pais.
Meio tristonho ele respondeu negativamente.
- E você? – perguntou para uma acompanhante.
Ela balançou a cabeça de um lado para outro confirmando que também não havia feito a simpatia das 7 ondas.
- Bom, então a hora é agora!! Vamos pular as 7 ondas, fazer os nossos pedidos e começar 2015 com toda força e tirando toda zica !!! O que acham?
Eles toparam imediatamente e foram ao encontro das palhaças.
Toda a equipe de enfermagem se amontoava num canto da UTI para assistir.
Olívia e Janja deram as mãos para os 2 e se prepararam para a primeira onda quando:
- Pera, pera, pêra!!! Para tudo!! – interrompeu Janja – Você vai molhar sua calça desse jeito! – advertiu dirigindo-se ao pai.
- Poxa vida... é mesmo! Bem lembrado! – disse o pai já se ajoelhando e dobrando as barras da calça para não molhar na água.
Tudo pronto agora!
- 1 – gritaram todos juntos e pularam a primeira onda fazendo seus pedidos.
- 2 – pularam a segunda onde e fizeram mais um pedido.
Quando Janja olhou para o canto das enfermeiras, percebeu que elas estavam emocionadas com a cena. O que a fez pensar que, muito provavelmente, aqueles pais tivessem passado a virada do ano ali no hospital ou em casa impedidos de viajar com os filhos por conta a saúde debilitada deles.
Janja ficou arrepiada e comovida com a situação. Ela olhou para Olívia e era visível o seu estado de emoção também.
Isso as fez pular as outras ondas com muito mais intensidade que as primeiras.
- 7 !!!! Uhuuuuuu agora estou pronto pra 2015!!! – disse o pai.
- 2015 vem ninim!!! – disse a mãe, visivelmente muito mais feliz do que na chegada da dupla.
- 2015 vai bombar!!! – gritou Olívia.
Todos se abraçaram e Janja e Olívia seguiram o seu trajeto para o outro lado da UTI com aquela sensação de alma lavada tendo a certeza de que as baterias foram recarregadas para enfrentar mais um ano de dificuldades, tristezas, mas também de muuuuuuuuuitas vitórias!!

Então que venha 2015 com força. Ele é nosso!!!!!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Não Pode Falar “Alto”!!!


Relato enviado pelo voluntário Paulo (Palhaço Arlindo)



Entramos em um quarto e demos de cara com duas crianças, uma estava bem acordada, sentada na cama, e a outra estava dormindo tranquilamente ao lado. Quando entramos, Tadeu começou a dar “oi” para todo mundo, com a voz bem alta, foi ai que pedi pra ele ficar quieto e que não falasse alto.

Mas como o palhaço leva tudo ao pé da letra, Tadeu perguntou pra mim: - O que não pode falar?
Arlindo: - Alto! Não pode falar Alto. (falei a palavra “Alto” em um tom de voz bem baixo)
Tadeu: - Então! Você falou!
Arlindo: - Falei o que?
Tadeu: - Alto!

Foi aí que a dupla inteligentíssima entendeu que a palavra “Alto” não podia ser dita e ficaram nessa discussão por um bom tempo:
Tadeu: - Então! Você falou!
Arlindo: - Falei o que?
Tadeu: - Alto!
Arlindo: - Eu não falei, foi você que falou!
Tadeu: - O que?
Arlindo: - Alto!
Tadeu: - hahaha... Olha lá!! Você falou Alto de novo!!!
Arlindo: - Tadeu! Como você é burro!!! Você falou!
Tadeu: - O que?
Arlindo: - Alto!!!

Os dois ficaram um tempão nesse assunto e a menina que estava sentada na cama, nunca caía na armadilha dos dois palhaços, eles queriam que ela falasse “Alto”, mas ela nunca falava!
Mas, quando ninguém esperava, ela deixou escapar...

Arlindo: - Falei o que?
Tadeu: - Alto!
Arlindo: - Eu não falei, foi você que falou!
Tadeu: - O que?
Arlindo: - Alto!
Menina: - Para de falar Alto!!! (ela já não aguentava mais a gente falando isso).

Foi nesse momento que Arlindo e Tadeu caíram na gargalha e começaram a apontar para a menina e dizer: - hahahaha!!!! Olha lá! Você falou Alto!
Tadeu: - Iiiiiiii... Arlindo, você também, falou!
Arlindo: - O que?
Tadeu: - Alto!
Arlindo: - Não, foi você quem falou!
Tadeu: - O que?
Arlindo: - Alto...

Os dois foram saindo do quarto aos sons de gargalhada da menina que não entendia a maluquice daqueles dois palhaços... E, até agora, ainda não sabemos se Arlindo e Tadeu pararam de falar “Alto”!
Opsss... eu também falei! O que?....


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sessão de Autógrafos


Relato enviado pela voluntária Daniela (Palhaça Janja)




Percorremos o 5º andar e demoramos a achar um quarto que pudéssemos entrar. Ou tinham placas azuis, verdes e vermelhas sinalizando isolamento ou o paciente estava dormindo.
Porém, nesse quarto que entramos foi diferente. Lá estava ele com o celular na orelha. Coloquei a metade do corpo dentro do quarto e ele acenou com a mão dizendo que eu podia entrar. Eu entrei na frente de Dália e disse: diz pra ela que estou mandando um beijo. Ele afastou um pouco o celular da orelha e respondeu: eu tô colocando crédito! Revidei: Então tá, manda um beijo pra ela mesmo assim... hahahahaha
Ele desligou o telefone e já foi logo explicando o problema de acabarem os créditos, que as pessoas ligam a cobrar, etc, etc, etc.
Um assunto emendando no outro, ele puxou uma mala que estava ao lado da cama e foi nos mostrando a foto dos filhos, dos netos, falando da sua vida, das derrotas, conquistas e permanecia falando enquanto Dália e eu ouvíamos atentamente suas histórias ora engraçadas, ora emocionantes, às vezes até tristes. Afinal de contas quando olhamos pra trás percebemos que temos todos os gêneros para nossas histórias: comédia, terror, ficção, suspense, romance, aventura... A nossa vida é ou não é um filme? E o diretor somos nós mesmos! Nossa, tenho um cargo importante! Bem, voltemos...
Entre suas narrações ele nos disse que foi um jogador de futebol do palmeiras da década de 70.
Dei um salto e falei ajeitando a roupa mostrando que estava de partida: - Então vou embora! Não gosto do palmeiras. Sou Corinthians!
Ele, muito cordial e amoroso, respondeu: - Mas o que seria do Corinthians sem o Palmeiras?!
Pequena pausa... E o que seria do Palmeiras sem o Corinthinas?!
Olhei para Dália. Dália arregalou seus olhos de jabuticaba e olhou pra mim. Balancei a cabeça de lado e falei: - Justo! Você tem razão. Me dá um autógrafo aí então, vai...
Ele falou: - Mas é claro! Você pode pegar esse bloco que está aí sobre a mesa e a caneta?
Peguei todo o material e entreguei pra ele.
Com toda educação ele nos ofereceu cadeiras para sentar, pois ele não queria autografar de qualquer jeito, com pressa.
Nós sentamos e ele começou a decorar o papel. Usou até esquadro para emoldurar a folha. Só não usou compasso e glitter porque não tinha. Enquanto ele escrevia continuávamos conversando sobre vários assuntos, inclusive futebol. Ele falava do Palmeiras e eu do Corinthians.
Finalizada a sessão de autógrafos, com dedicatórias e decorações, nos despedimos e fomos embora daquele quarto felizes e pensativas.
Nem sempre precisamos fazer algo sensacional, uma cena incrível ou arrancar muitas gargalhadas.
O palhaço vai muito mais além do que arrancar boas risadas.
Ele se relaciona com o que está se passando naquele momento e aquele momento pode ser: eu preciso falar, eu preciso ser ouvido, eu preciso partilhar...
E foi isso!
Ouvimos, dividimos nossas histórias com ele, ele com a gente e agora partilhamos um pedaço dela com você.