Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 26 de março de 2014

O Espelho


Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)

 

 
Espelho, espelho meu,
Eu te trago uma imagem nos meus olhos
E você me diz o que achou?
Eu sei que esse reflexo não é meu,
Mas é da menina bela
Que na própria beleza não acreditou.

Uma adolescente de uns quinze anos estava deitada em uma cama da sala de observação. Ela era linda. Tinha cabelos volumosos e negros, sobrancelhas grossas e olhos grandes e redondos.
 
Dona Borboleta e eu nos aproximamos. A garota sorriu pra gente e ficou ainda mais bonita. Eu falei que ela era bela. Dona Borboleta perguntou se ela tinha feito alguma novela, se ela era artista de televisão. De repente, a cara da menina se encheu de tristeza e ela falou: “Eu não sou mais bonita. Estou feia.”.
 
Tentamos contornar a situação, dizendo que a menina estava nos humilhando com sua beleza e humildade, mas não deu certo. A menina foi ficando feia de verdade. Ela fez bico de quem quer chorar.
 
Eu estava inconformada com aquela situação. Como uma menina tão bonita podia se achar feia? Olhei bem para a garota e falei: “Eu vou procurar um espelho para te mostrar como você é linda.”.
 
Saí desembestada andando pela sala, entrei no banheiro mais próximo e tinha uma criança lá dentro que chorou de medo ao me ver. “Como vou conseguir um espelho?”, eu pensei. Procurei, procurei e não achei. Dona Borboleta tentou me ajudar na tarefa, mas sem obter sucesso.
 
Eu voltei, olhei para a mocinha e disse: “Eu não consigo trazer o espelho do banheiro. Vamos fazer assim: você me olha, eu levo a sua imagem para o espelho e te conto o que ele achou. Topa?”. A garota topou meio ressabiada.
 
Eu cheguei bem perto da garota e fixei os meus olhos nos dela. Fiquei assim alguns segundos, apenas contemplando a beleza da moça. Tudo mudou. Ela arregalou os olhos, começou a sorrir e fazer umas caras engraçadas. Acho que a garota estava me imitando. Apareceu um brilho enorme nos olhos dela.
 
Eu saí correndo e levei tudo para o espelho. Voltei alguns segundos depois, olhei para a garota e falei: “Sabe o que o espelho me falou?”. A menina sorriu e perguntou, com uma carinha apreensiva: “O que?”. Eu respondi, sorrindo: “Que você é linda de morrer!”.
 
A mocinha sorriu tímida. Ficou tão feliz e bonita. Foi difícil segurar o choro e tirar os olhos dela depois disso.
 

quarta-feira, 19 de março de 2014

A Desenhista


Relato enviado pela voluntária Bárbara (Palhaça Suzete)
 


Na quimioterapia, avistamos uma menininha fazendo desenhos, logo a Valentina e a Suzete começaram a tentar convencê-la de quem ela deveria desenhar:
 
Suzete: - Você tem que ME desenhar, pois eu sou mais bonita e mais charmosa.
Valentina: - Não, você tem que desenhar a mim, afinal, eu estou com uma roupa muito mais legal! Minha saia tem flores!
Suzete: - E daí, que a sua saia tem flores? O meu vestido é cheio de bolinhas, muito mais bonito!
Valentina: - Você é sem originalidade, Suzete... Eu que estou mais bonita, eu combinei a cor da blusa com a saia.
Suzete: - Mas eu combinei o sapato com a roupa. Você não sabe nada de moda!
 
E assim saímos discutindo.

Quando estávamos em outro andar, encontramos com a mãe da paciente e ela disse: - A M.C. fez o desenho de vocês, vocês tem como ir buscar?
 
Fomos correndo afoitas e quando chegamos lá, ganhamos o lindo desenho abaixo!! 

 

Ficamos muito felizes e contentes, agradecemos muito e fomos embora saltitando!!
 
O mais incrível foi ver que ela se apegou aos mínimos detalhes e fez o desenho de acordo com as nossas características mesmo.

 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Fotógrafo Francês


Relato enviado pelo voluntário Paulo (Palhaço Arlindo)

 


Entramos no quarto de uma menina que aparentava ter uns 15 anos, logo Tadeu anunciou que lá fora havia uma pessoa ilustre, uma grande atração que vinha diretamente da França especialmente para ver a M.
 
Com toda essa introdução, Tadeu iniciou a apresentação: - Diretamente do norte da França, o incrível, o único, o espetacular... o Melhooooor fotógrafo do mundo. Siiiiiiiiim... ele está aqui pessoal, é ele o Aaaaarliiiindóooooooo!!
 
Logo tive que me transformar no melhor fotógrafo do mundo, mudando meu nome de Arlindo para Arlindóo. 
 
Enquanto entrava no quarto esbanjando glamour, Tadeu começava a contar a minha história: - Ele já passou por inúmeros desfiles, fotografou modelos pelo mundo, viajou por continentes e chega hoje no Darcy Vargas para fotografar a mais bela entre as pacientes desse hospital!!
  
Ahhh... aquilo para mim era um momento de glória, nunca tinha ouvido tantos elogios na minha vida!! Estava tudo perfeito, até que as coisas mudaram e Tadeu começou a me sacanear.
 
Tadeu: - Sim, apesar de toda sua fama, a vida pregou uma grande peça no nosso fotógrafo, num belo dia, ele acordou manco da perna esquerda.
 
Neste momento que tive que começar a mancar, tirava fotos e mancava...
 
Tadeu: - Mesmo assim ele não desistiu da carreira, e novamente a vida lhe pregou uma peça, fazendo com que nosso fotógrafo Francês e Manco ficasse cego de um olho!
 
Comecei a mancar e tirar fotos com um olho só... 
 
Não satisfeito, Tadeu deu sua cartada fatal: - E, por fim, nessa última semana, nosso fotógrafo Francês, Manco e Cego de um olho começou a ter trejeitos femininos... sim, ele fala igual uma mulherzinha e tem jeitos de mulherzinha!
 
Tive aqueles 3 segundos de total tristeza e desapontamento... mas, se vocês pensam que isso me abateu, estão enganados, não é pelo fato de ser Manco, Cego de um Olho e falar igual Mulherzinha que isso me derrubaria!!
Logo comecei a tirar inúmeras fotos da M, mesmo com todas essas dificuldades. 
 
Com todo meu sotaque Francês de menininha, pedi que ela fizesse uma pose de “Macaqui com caimbri” e pedi para que Tadeu traduzisse para ela. Tadeu explicou que era um macaco com câimbra!
 
Tirei algumas fotos, mas não estavam boas na posição “Macaqui com caimbri”, foi quando Tadeu pediu para que a M. fizesse cara de cachorro.
Fiz uma nova sessão de fotos e dessa vez estavam ótimas, todas estavam saindo perfeitas, aquelas sim eram fotos de um o grande Fotógrafo Francês, Manco, Cego de um olho só e que falava como Mulherzinha!
 
Sendo assim, decidimos revelar aquelas fotos com poses de cachorro, não podíamos perder aquela obra de arte. Nesse momento entendi o porquê Tadeu havia pedido poses de cachorro!
No sofá do quarto tinha um cobertor dobrado com uma estampa de cachorro.
Quando tiramos o cobertor e mostramos como a M. havia ficada idêntica a um cachorro, ela não aguentou e começou a gargalhar!
 
As gargalhadas aumentaram ainda mais quando tive que sair do quarto mancando, trombando em todos os lugares pelo fato de não enxergar com o olho esquerdo e rasgando todo meu sotaque francês de mulherzinha.
 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Eucaliptomaníacos


Relato enviado pelos voluntários Daniela e Mauro (Palhaços Janja e Malavazzi)
 
 

Apenas um senhor dentro do quarto e uma palhaça na porta.
- Oi, com licença? Posso entrar? – questiona Janja.
- É... sim.
- Qualquer um pode entrar aqui?
- Pode, acho que pode.
- Ah tá, peraí, deixa eu só chamar o meu parceiro.
 
Janja voltou para o corredor e Malavazzi aparece na porta.
- Oi, com licença? Qualquer um pode entrar aqui?
- É... acho melhor perguntar para a enfermeira – disse o paciente, pensando que a nossa pergunta se tratava de questões infecto-contágio-infecciosas contagiantes.
- Veja, meu senhor - disse Malavazzi, já entrando no quarto – é que a minha parceira, a Janja, ela rouba. Sabe? Uma pessoa rouba coisas? É ela. Não sei se é uma boa deixar ela entrar ...
 
Tarde demais, Janja já estava dentro.
 
Bom, com os dois palhaços lá dentro do quarto, Malavazzi foi explicando para o senhor uma proposta dele a respeito da vegetação da cidade: substituir todas as árvores por eucaliptos! Os eucaliptos eram ótimos, eram verdes, eram cheirosos... e... e o senhor tinha parado de prestar atenção no belo discurso eucalíptico e começou a olhar para algo que se passava atrás de Malavazzi. Malavazzi virou-se e, como esperado, lá estava a Janja tentando roubar lençóis do quarto! Lençóis! Que deprimente.
 
Os dois repreenderam a ladra e Malavazzi voltou a explanar sobre sua proposta inovadora. Eucalipto é genial, a cidade pareceria uma sauna gigante e... e... novamente vira-se e Janja agora tentava roubar uma almofada. O senhor riu, porque a almofada não cabia debaixo do vestido da Janja que novamente foi repreendida.
 
O eucalipto isso, o eucalipto aquilo e... e... agora ela tentava roubar aquele gaveteiro móvel gigante! Que absurdo!
 
- Viu, senhor? Não é todo mundo que você pode deixar entrar aqui. – diz Malavazzi.
- Entendi. Deixo entrar os Eucaliptomaníacos, mas barro os cleptomaníacos.
- Perfeito!