Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)
Espelho, espelho meu,
Eu te trago uma imagem nos meus olhos
E você me diz o que achou?
Eu sei que esse reflexo não é meu,
Mas é da menina bela
Que na própria beleza não acreditou.
Eu te trago uma imagem nos meus olhos
E você me diz o que achou?
Eu sei que esse reflexo não é meu,
Mas é da menina bela
Que na própria beleza não acreditou.
Uma adolescente de uns quinze anos estava deitada em uma cama da sala de observação. Ela era linda. Tinha cabelos volumosos e negros, sobrancelhas grossas e olhos grandes e redondos.
Dona Borboleta e eu nos aproximamos. A garota sorriu pra gente e ficou ainda mais bonita. Eu falei que ela era bela. Dona Borboleta perguntou se ela tinha feito alguma novela, se ela era artista de televisão. De repente, a cara da menina se encheu de tristeza e ela falou: “Eu não sou mais bonita. Estou feia.”.
Tentamos contornar a situação, dizendo que a menina estava nos humilhando com sua beleza e humildade, mas não deu certo. A menina foi ficando feia de verdade. Ela fez bico de quem quer chorar.
Eu estava inconformada com aquela situação. Como uma menina tão bonita podia se achar feia? Olhei bem para a garota e falei: “Eu vou procurar um espelho para te mostrar como você é linda.”.
Saí desembestada andando pela sala, entrei no banheiro mais próximo e tinha uma criança lá dentro que chorou de medo ao me ver. “Como vou conseguir um espelho?”, eu pensei. Procurei, procurei e não achei. Dona Borboleta tentou me ajudar na tarefa, mas sem obter sucesso.
Eu voltei, olhei para a mocinha e disse: “Eu não consigo trazer o espelho do banheiro. Vamos fazer assim: você me olha, eu levo a sua imagem para o espelho e te conto o que ele achou. Topa?”. A garota topou meio ressabiada.
Eu cheguei bem perto da garota e fixei os meus olhos nos dela. Fiquei assim alguns segundos, apenas contemplando a beleza da moça. Tudo mudou. Ela arregalou os olhos, começou a sorrir e fazer umas caras engraçadas. Acho que a garota estava me imitando. Apareceu um brilho enorme nos olhos dela.
Eu saí correndo e levei tudo para o espelho. Voltei alguns segundos depois, olhei para a garota e falei: “Sabe o que o espelho me falou?”. A menina sorriu e perguntou, com uma carinha apreensiva: “O que?”. Eu respondi, sorrindo: “Que você é linda de morrer!”.
A mocinha sorriu tímida. Ficou tão feliz e bonita. Foi difícil segurar o choro e tirar os olhos dela depois disso.