Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Obrigado!


Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)
 


No corredor do sétimo andar, descobrimos uma enfermeira muito legal que tinha um nome que nos lembrava um reggae!
Rubi, Doralina e eu começamos a cantar e dançar o reggae: “Don’t worry about a thing, cause every little thing is gonna be alright”.
  
Nós nos empolgamos muito com a música e perseguimos a enfermeira que ria, até entrarmos em um quarto. Continuamos cantando e dançando.
Dentro do quarto tinha um jovem deitado na cama, praticamente inconsciente, e seu pai, um homem de uns cinquenta anos de idade.
A pedido da enfermeira, nós diminuímos um pouco o volume da música, mas isso não foi suficiente para impedir que o pai nos mandasse embora. 
 
Fiquei triste e suspirei contrariada. O pai explicou que o filho não podia nem rir daquele jeito. Perguntei se o pai também não poderia rir e ele respondeu que naquela situação não tinha como rir.
Vendo a seriedade do pai, Doralina tentou consertar dizendo que rir é o melhor remédio, mas o pai insistiu em nos mandar embora. 
 
Rubi e Doralina já estavam na porta, quase indo embora... Eu respirei e parei alguns segundos olhando nos olhos daquele homem.
Vi tanto sofrimento que não pude simplesmente ir embora. Tive vontade de estender minha mão na direção do pai e foi o que fiz. O homem me olhou um tanto surpreso e ressabiado, mas estendeu a mão dele na minha direção. Depois de segundos, aquele aperto de mão se transformou em um abraço afetuoso. 
 
Doralina e Rubi voltaram e repetiram o gesto. Saímos do quarto e o pai já não estava mais tão tenso.
Vi certa gratidão no último olhar que troquei com ele e, com certeza, ele viu essa mesma gratidão nos meus olhos.
 
 
 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Olhar Paralisante


Relato enviado pelo voluntário Fábio (Palhaço Tunico)

 


Jaime e Tunico entram no quarto de L. e a mãe já foi avisando:
– Ele não gosta de palhaços!
 
Tunico olhou para Jaime e ambos perceberam que o garoto, que aparentava ter 8 anos, nem ligava para os dois, somente olhava para o videogame.
 
– Mas ele tem medo? Perguntou Tunico.
 
– Não – explicou a mãe – é que uma vez veio um palhaço aqui tentando fazer mágica e foi horrível! O L. falou que palhaço tem que fazer palhaçada e não mágica, depois disso nunca mais quis saber de vocês.
 
Tunico e Jaime concordaram com a mãe dizendo realmente que palhaço tem que fazer palhaçada e, tentando ver o que o garoto jogava, Tunico percebeu que o olhar dele era super poderoso e tratou de avisa rapidamente o Jaime:
– Jaime cuidado! O olhar dele paralisa palhaços!
 
E toda hora que L. olhava para os dois uma energia super poderosa fazia com que os palhaços ficassem completamente congelados.
 
Pronto! A partir daí o rapazinho abaixava e levantava o olhar e os dois palhaços mal conseguiam se mexer para sair do quarto.
 
Mas isso não foi o pior! L. percebeu que quando apontava o dedo os dois tremiam feito vara verde!!
 
Foi tanta gargalhada que saia do menino que finalmente depois que os dois palhaços conseguiram fugir para o corredor a mãe veio atrás e disse:
– Parabéns, viu!! Fazia muito tempo que ele não ria tanto!
 
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Dia de São Jorge!


Relato enviado pelo voluntário Pedro (Palhaço Jaime)  

 

Entramos em um quarto e, após conversarmos com M. sobre a novela Salve Jorge, descobrimos que o dia 23 de abril é o dia de São Jorge! Assim, decidimos protagonizar a batalha entre São Jorge e o Dragão.
 
Jaime se transformou no Dragão e Estafúrcio utilizando objetos do quarto, armou-se para o combate. 
 
O Dragão voava pelo quarto e Estafúrcio aproximou-se com sua Espada... Jaime tentou fugir, mas Estafúrcio, com uma técnica incrível, golpeou o Dragão... ou o Jaime... enfim....
O Dragão começou a cair... cair.... cair.... e quando Estafúrcio achou que a batalha estava vencida, o Dragão levantou-se e deixou claro que não era assim que se matava um Dragão.
 
Estafúrcio, diante de tal situação, perguntou para M. o que era bom para apagar fogo de Dragão e a resposta foi.... ÁGUA!!!
 
Estafúrcio foi ao banheiro, mais conhecido como o centro das armas, e se armou com o líquido mortal conhecido pela sigla H2O... O Dragão se aproximou e Estafúrcio, assim como São Jorge, deu o golpe fulminante... As asas do Dragão pararam e Estafúrcio venceu a batalha...
 
Por fim, Estafúrcio pegou sua presa e saiu do quarto para confeccionar um belo churrasco de Dragão!!!
 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Perfume de Menina


Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)



Em um quarto do sétimo andar, havia uma menina de uns sete anos de idade sendo alimentada por sua mãe.
Logo que entramos, Charles e eu ouvimos um som de água caindo. Cogitamos se tratar de uma cachoeira ou talvez um rio de águas calmas, mas a menina nos avisou que era apenas alguém tomando banho.
 
Lorena: “Por falar nisso, Charles, você tomou banho hoje?”.
Charles: “Pra falar a verdade, não.”.
Lorena: “Então, esse cheiro ruim que estou sentindo desde cedo é seu! Vá já se lavar!”.
 
Charles foi em direção a uma torneira que havia no quarto e começou a lavar as mãos e o cabelo. Enquanto isso, eu reclamava daquela situação para a menina.
Quando Charles voltou, eu dei uma cafungada no pescoço dele e senti um perfume muito gostoso. Fiquei elogiando aquele cheiro bom e Charles me disse que era um perfume novo: Charlotil.
 
Lorena: “M., você está sentindo o perfume do Charles?”.
M.: “Não estou sentindo cheiro nenhum.”.
 
Eu pedi que a mãe da menina cafungasse o pescoço do Charles e a resposta foi positiva. Todos no quarto sentiam o perfume, menos a menina.
 
Lorena: “M., não é possível. Seu nariz deve estar entupido! Só pode. Está o maior cheiro bom aqui no quarto.”.
M.: “Não, meu nariz não está entupido. E não estou sentindo cheiro nenhum. Esse perfume não é de verdade, né?”.
 
A mãe da menina deu uma risadinha. Charles e eu ficamos surpresos com aquela pergunta.
 
Lorena: “Será que esse cheiro só existe na nossa imaginação?”.
Charles: “Nossa, será que é isso? Esse perfume só existe na nossa cabeça?”.
Lorena: “E se todos nós juntos imaginássemos um perfume bem gostoso? Cada um imagina o seu perfume. Todos juntos concentrados, imaginando um perfume! M., quer tentar pra ver se você sente um perfume?”.
 
A menina fez uma carinha questionadora, mas concordou.
 
Lorena: “5, 4, 3, 2, 1 e já!”.
 
Palhaços concentrados. Mamãe concentrada. Menina concentrada. Olhos fechados. Imaginação aberta.
 
Charles: “Eu senti um perfume muito bom!”.
Lorena: “Eba! Eu também senti. E você, M., sentiu algum perfume?”.
Ela acenou com a cabeça.
 
Sim, ela tinha imaginado e sentido um perfume. Perguntei qual era o cheiro preferido da menina e ela respondeu: “Cheiro de maçã.”.
 
Ficamos muito empolgados. Saímos do quarto prometendo carregar aquele perfume de maçã pelo prédio todo.
 

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Susto


Relato enviado pelo voluntário Fábio (Palhaço Tunico)


 

 
Malavazzi e Tunico andavam descontraídos pelo corredor do Menino Jesus com o objetivo de conhecer crianças simpáticas.
Ao olharem pela porta, já aberta, no final do corredor os dois tomam um susto com uma situação incrivelmente incrível!!!
 
Uma menina super sorridente tinha uma luva de plástico presa ao pijama na barriga. Os dois se olharam com uma cara de espanto por que como podia ter nascido uma mão da barrida dela???!!!!
 
A menina já rindo da situação dos palhaços na porta, como um passo de mágicas consegue arrancar a “mão” da barriga e joga no chão.
Tunico quase teve uma parada cardíaca e Malavazzi ficou boquiaberto com aquilo e sem esperar muito propôs ajudar a resgatar a “mão” de barriga da criança. Explicou para Tunico que precisavam resgatar a mão utilizando um equipamento super sofisticado: um pedaço de papel toalha enrolado como um canudo.
 
Os dois palhaços começaram a entrar no quarto com todo cuidado possível para não serem atacados pela mão, mas a criança estava tão comprometida em colocar os dois numa enrascada que começou a jogar chinelos na direção da luva para que ela despertasse de seu sono profundo. Quando conseguir atingir a luva, ela pulou como um polvo com seus tentáculos atrás da presa.
O susto dos dois foi tão grande que Malavazzi pulou pela janela que leva até a varanda do quarto enquanto Tunico se escondia embaixo da pia que havia no quarto, e acreditem o Tunico coube embaixo da pia!
 
A menina não parava de rir com a situação o que fez outras mães entrarem no quarto para entenderem o que estava acontecendo.
 
Após os corações dos palhaços desacelerarem e a coragem voltar para as calças deles, os valentes soldados respiraram fundo e como numa coreografia conseguiram resgatar a “mão” da barriga da criança e devolve-la sã e salva.
 
Missão cumprida e os dois felizes já saíram do quarto quando mais uma vez o susto resolveu voltar.
Logo na saída do quarto, um funcionário da manutenção do hospital que trazia uma maca para o quarto resolver colocar Malavazzi deitado com a ajuda de outro funcionário e o levaram de volta para o quarto.
 
Tunico, sem entender muito bem o porque daquilo, só ouviu uma das mães que estava no quarto dizendo: - Tunico, faz exame nele!!!!
 
Tunico, sabendo que é um médico formado na melhor universidade do país, já pegou uma luva de plástico que estava em uma caixa e ordenou aos funcionários que levassem a maca para a sacada onde o exame seria realizado.
Ao fechar a porta de seu “consultório”, Tunico só ouvia dentro do quarto as pessoas dizendo: - O que será que eles vão fazer?
 
Ao abrir a porta, as mães observaram que Malavazzi estava todo amassado com o cachecol enrolado na cabeça, a blusa fora do lugar e andando todo machucado, enquanto Tunico as tranquilizada dizendo que o exame tinha sido um sucesso e informando que levaria o “paciente” para outro quarto onde tomaria os cuidados necessários.
 
Acredito que Malavazzi nunca tinha tomado tantos sustos num único dia.
 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Emoção de uma Avó

Relato enviado pelo voluntário Fabio (Palhaço Bordô)
 
 


Nem sempre estamos preparados para todas as situações do nosso trabalho no hospital. Num lampejo a emoção pode trair e desconcertar qualquer palhaço preparado.
 
Quando visitamos a sala da quimioterapia no GRAACC, iniciamos uma brincadeira com um menino e a minha parceira Janja pediu para ele chamar a sua mãe. Eu (Bordô) e a outra palhaça Valentina ficamos na expectativa da resposta. O garoto nos disse que a mãe não estava, mas que a avó era responsável por ele.
 
Chamamos a avó e ela veio caminhando lentamente entre as crianças da quimioterapia e logo se deparou com seu neto. A avó caiu num choro sentido. As lágrimas escorriam acompanhadas de uma sonoridade de lamento. Se abateu um instante de tristeza...
 
Nos abalamos com o momento. Por um breve tempo houve uma pausa tensa, onde veio a fatídica pergunta interna: o que fazemos agora? Nos voltamos para a criança e também não havia clima para qualquer cena. Faltou pouco para nos abater de vez. Num instante de intuição, escapamos desta situação nos voltando para outra criança para nos recompor.
 
Ao final da visita nesta ala, conseguimos recuperar o jogo com esta avó que estava com outro neto de um ano. Foi tudo diferente, pois ela reagiu bem às nossas brincadeiras. Cantamos parabéns para seu neto em vários idiomas e o menino ficou bem entretido. A avó já tinha mudado sua feição, era outra.
 
Aprendi muito neste dia. Tem momentos como este, que nos cabe aceitar o imponderável e deixar que um breve tempo recupere o que aparentemente estava perdido.