Palhaço também conta histórias!
Neste blog você pode saber um pouco mais das nossas histórias vividas nos hospitais.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Com Licença, Tem Alguém Aí do Outro Lado?

Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)



Dália e eu olhamos para dentro de um quarto e vimos um garoto sozinho, de costas pra gente, sentado em uma cadeira de rodas, balançando lentamente os ombros e fazendo aquele barulho típico de quem está chorando. Respiramos fundo e demos três batidinhas no batente da porta.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tem alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem alguém aí do outro lado?

O menino parou de balançar os ombros e o barulho de choro cessou por um momento. Sem olhar pra gente, o garoto balançou a cabeça para cima e para baixo. Entendemos que aquilo era um sim. Ficamos curiosas e mais uma vez demos três batidinhas no batente da porta.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tem alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem alguém aí do outro lado, olhe para cá.
Lorena: Se tem alguém aí do outro lado, olhe para cá.

O menino virou a cabeça, nos olhou com o rosto molhado de lágrimas. Respiramos fundo, olhamos uma para a outra e continuamos com as nossas batidinhas.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tem alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Lorena: Se tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?

O menino deu uma risadinha e fez um joia com a mão. Pulamos de alegria e as nossas batidinhas ficaram cada vez mais rápidas e piradas.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tem alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Lorena: Se tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Dália: Se a gente pode entrar, podemos entrar pulando?
Lorena: Se a gente pode entrar, podemos entrar pulando?

O menino continuou rindo e enxugou as lágrimas do seu rosto. Entramos pulando no quarto e fizemos manobras radicais para contornar a cadeira de rodas e ficar bem na frente do garoto. Demos três batidinhas em uma mesinha e retomamos nossa conversa com eco.
Lorena: Com licença!
Dália: Com licença!
Lorena: Tem alguém aqui deste lado?
Dália: Tem alguém aqui deste lado?

O menino riu, fez joia, balançou a cabeça positivamente e ficou acompanhando cada movimento nosso com os olhos. Nós também não tirávamos os olhos dele.

Lorena: Com licença!
Dália: Com licença!
Lorena: Tem alguém aqui deste lado?
Dália: Tem alguém aqui deste lado?
Lorena: Se tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca?
Dália: Se tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca?

O menino se ajeitou na cadeira, arregalou os olhos e aceitou nossa proposta.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tem alguém aqui deste lado?
Lorena: Tem alguém aqui deste lado?
Dália: Se tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca com uma dança muito doida?
Lorena: Se tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca com uma dança muito doida?

O menino respondeu: SIM.

Dália e eu inventamos um rap muito maluco, sempre repetindo as frases “Tem alguém aí? Tem alguém aqui? Você está aqui?” e chacoalhando o corpo freneticamente. O menino sorria pra gente o tempo todo. Ao final da música, não havia mais lágrimas naquele quarto.

Lorena: Com licença!
Dália: Com licença!
Lorena: Tem alguém aqui deste lado?
Dália: Tem alguém aqui deste lado?
Lorena: Se tem alguém aqui deste lado, a gente pode ir embora?
Dália: Se tem alguém aqui deste lado, a gente pode ir embora?

O menino sorriu e fez um sim balançando a cabeça. Dália e eu saímos do quarto pulando. Paramos perto da porta. Demos três batidinhas no batente.

Dália: Com licença!
Lorena: Com licença!
Dália: Tchau.
Lorena: Tchau.


Nenhum comentário: