Relato enviado pela voluntária Paloma (Palhaça Lorena)
Dália e eu olhamos para dentro de um quarto e vimos
um garoto sozinho, de costas pra gente, sentado em uma cadeira de rodas,
balançando lentamente os ombros e fazendo aquele barulho típico de quem está
chorando. Respiramos fundo e demos três batidinhas no batente da porta.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tem
alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem
alguém aí do outro lado?
O menino parou de balançar os ombros e o barulho de
choro cessou por um momento. Sem olhar pra gente, o garoto balançou a cabeça
para cima e para baixo. Entendemos que aquilo era um sim. Ficamos curiosas e
mais uma vez demos três batidinhas no batente da porta.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tem
alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem
alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem
alguém aí do outro lado, olhe para cá.
Lorena: Se
tem alguém aí do outro lado, olhe para cá.
O menino virou a cabeça, nos olhou com o rosto
molhado de lágrimas. Respiramos fundo, olhamos uma para a outra e continuamos
com as nossas batidinhas.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tem
alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem
alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem
alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Lorena: Se
tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
O menino deu uma risadinha e fez um joia com a mão.
Pulamos de alegria e as nossas batidinhas ficaram cada vez mais rápidas e
piradas.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tem
alguém aí do outro lado?
Lorena: Tem
alguém aí do outro lado?
Dália: Se tem
alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Lorena: Se
tem alguém aí do outro lado, a gente pode entrar?
Dália: Se a
gente pode entrar, podemos entrar pulando?
Lorena: Se a
gente pode entrar, podemos entrar pulando?
O menino continuou rindo e enxugou as lágrimas do
seu rosto. Entramos pulando no quarto e fizemos manobras radicais para
contornar a cadeira de rodas e ficar bem na frente do garoto. Demos três
batidinhas em uma mesinha e retomamos nossa conversa com eco.
Lorena: Com
licença!
Dália: Com
licença!
Lorena: Tem
alguém aqui deste lado?
Dália: Tem
alguém aqui deste lado?
O menino riu, fez joia, balançou a cabeça
positivamente e ficou acompanhando cada movimento nosso com os olhos. Nós
também não tirávamos os olhos dele.
Lorena: Com
licença!
Dália: Com
licença!
Lorena: Tem
alguém aqui deste lado?
Dália: Tem
alguém aqui deste lado?
Lorena: Se
tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca?
Dália: Se tem
alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca?
O menino se ajeitou na cadeira, arregalou os olhos
e aceitou nossa proposta.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tem
alguém aqui deste lado?
Lorena: Tem
alguém aqui deste lado?
Dália: Se tem
alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca com uma dança
muito doida?
Lorena: Se
tem alguém aqui deste lado, esse alguém quer ouvir uma música maluca com uma
dança muito doida?
O menino respondeu: SIM.
Dália e eu inventamos um rap muito maluco, sempre
repetindo as frases “Tem alguém aí? Tem alguém aqui? Você está aqui?” e chacoalhando
o corpo freneticamente. O menino sorria pra gente o tempo todo. Ao final da
música, não havia mais lágrimas naquele quarto.
Lorena: Com
licença!
Dália: Com
licença!
Lorena: Tem
alguém aqui deste lado?
Dália: Tem
alguém aqui deste lado?
Lorena: Se
tem alguém aqui deste lado, a gente pode ir embora?
Dália: Se tem
alguém aqui deste lado, a gente pode ir embora?
O menino sorriu e fez um sim balançando a cabeça.
Dália e eu saímos do quarto pulando. Paramos perto da porta. Demos três
batidinhas no batente.
Dália: Com
licença!
Lorena: Com
licença!
Dália: Tchau.
Lorena: Tchau.
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